São Paulo, sexta-feira, 03 de fevereiro de 2006

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ÚLTIMA MODA

Streetwear é
UM LUXO

O streetwear brasileiro vive uma nova fase: está em busca de sofisticação. Grifes de forte apelo comercial, como Cavalera, V.Rom e Redley estão agregando interpretações "luxuosas" a referências pinçadas das culturas jovens urbanas, como se viu nos desfiles do Fashion Rio e da São Paulo Fashion Week.
A tendência também se manifestou nas coleções de Alexandre Herchcovitch e Marcelo Sommer, que, aliás, consolidaram suas marcas com elaborações autorais do streetwear e do underground.
"Tivemos nossa fase de fazer piada. Agora existe um desejo de sofisticação ousada no ar, e a marca está em sintonia com o momento", afirma Ricardo Gonzales, consultor de criação da Cavalera. Para Vitor Santos, diretor criativo da V.Rom, o fenômeno está relacionado a uma nova concepção do que é luxo. "As pessoas ricas e antenadas fogem daquele luxo burguês, porque ostentar virou algo cafona. O legal é um despojado sofisticado. Por outro lado, quem não tem muito dinheiro quer um produto moderno, mas que não custe muito. É aí que entra o novo streetwear", diz.
Streetwear é o nome que se dá aos vários modos de vestir das tribos jovens das grandes cidades, dos grupos de hip hop aos skatistas. Segundo o historiador e consultor de moda João Braga, o conceito firmou-se para a indústria nos anos 90, mas desde os 60, as ruas influenciam a moda. Para ele, a atual busca de luxo pelo streetwear "é um sintoma de esgotamento de fórmulas nesse segmento, o que leva à procura de outras referências e da tradição".
A Cavalera, por exemplo, buscou inspiração em estilos aristocráticos, explorando volumes inusitados e misturando delicadas rendas com tecidos nada nobres (jeans e moletons).
Mas será que o consumidor vai assimilar o streetwear de luxo, como o proposto pela Cavalera? Segundo Gonzales, as roupas apresentadas na SPFW serão produzidas inicialmente em pequenas quantidades. "Esse é um trabalho de renovação, que leva tempo. Vamos continuar vendendo jeans e camisetas, mas essa linha mais trabalhada veio para ficar."

A REVOLUÇÃO DE JOHN GALLIANO

A coleção de John Galliano para a Dior foi o acontecimento bombástico dos desfiles de alta-costura, em Paris, no último mês. Calcula-se que, em todo o planeta, cerca de 1.500 mulheres apenas ainda compram alta-costura feita na França. Para esta consumidora exclusiva, o estilista britânico evocou emblemas da Revolução Francesa, mostrou roupas banhadas em vermelho-sangue, vestiu as garotas aristocraticamente de escarlate e estampou a data de 1789 no colo das modelos, bem perto de onde a guilhotina adorava lançar a sua lâmina afiada.

 

Galliano é um dos estilistas de "Maria Antonieta", de Sofia Coppola, que, antes de estrear, já se tornou um irradiador de tendências na moda. Com sua glamourização da rainha guilhotinada em 1793, aos 37, o filme é a contribuição hollywoodiana à nova onda de revisão histórica da Revolução e de ataques aos métodos políticos da época do Terror (1793-94).
 

Para o seu desfile, o perverso Galliano disse ter se inspirado também nas revoltas nos subúrbios de Paris (no ano passado), no cinema gótico de Tim Burton e no Marquês de Sade. "O vermelho é o novo libertino, o platinado é a nova Maria Antonieta", declarou.

ALCINO LEITE, com Viviane Whiteman - ultima.moda@folha.com.br

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