LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

O uso farto da história do Brasil como matéria-prima de sambas-enredo rendeu a famosa piada do "samba do crioulo doido", em que Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto) imaginava um compositor atrapalhado com tantas informações.
Nas muitas vezes em que a combinação deu certo, no entanto, saíram obras-primas como as 11 regravadas no CD "Aula de Samba", produzido por Mart'nália, que conhece o assunto desde o berço.
A ambigüidade do título é perfeita, pois são 11 lições de como é (ou era?) possível criar belas melodias e letras a partir de temas complexos. Nem é justo comparar com o horror dos sambas de hoje, mas vale atentar para uma diferença.
Enquanto toda a safra 2008 tem a mesma estrutura (dois refrães-empolgação e duas estrofes resumindo a trama), cada um de "Aula de Samba" tem sua própria cara.
"Exaltação a Tiradentes" (Império Serrano, 1949), que abre o CD na voz equilibrada de Chico Buarque, possui apenas dez versos e nada tem de vazio, concentrando-se no básico.
Sete anos depois, Padeirinho criaria para a Mangueira "O Grande Presidente", um típico samba-lençol -grande e que cobre todo o enredo. Alcione o interpreta com excelência.
Animados sem exageros, se destacam Zélia Duncan ("Benfeitores do Universo", Cartolinhas de Caxias, 1953), Moska ("Dia do Fico", Beija-Flor, 1962), Leci Brandão ("Dona Beja, A Feiticeira do Araxá", Salgueiro, 1968), Emilio Santiago ("Sublime Pergaminho", Unidos de Lucas, 1968), Maria Rita ("Heróis da Liberdade", Império, 1969) e Lenine ("Onde o Brasil Aprendeu a Liberdade", Vila Isabel, 1972).
Os senões são os excessos de falas de Simone em "Aquarela Brasileira" (Império, 1964), de sussurros de Toni Garrido em "Os Cinco Bailes da História do Rio" (Império, 1965) -em duo com a co-autora Dona Ivone Lara- e de "bossas" ("alô, Canudos!" etc.) de Fernanda Abreu em "Os Sertões" (Em Cima da Hora, 1976). Mas não chegam a bagunçar a aula.