São Paulo, quinta-feira, 03 de fevereiro de 2011

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CRÍTICA NÃO GOSTEI

Estética expressionista busca impressionar impressionáveis

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Céline, autor central da literatura do século passado, disse uma vez que o escritor escreve com sua própria pele. Darren Aranofsky leva mais ou menos duas estafantes horas para dizer a mesma coisa a partir da história de Nina (Natalie Portman), a bailarina de "Cisne Negro".
Nina é esforçada e talentosa. Mas não lhe faltam problemas na vida. Desde a inibição que atrapalha seu voo (nunca teve relação sexual quando o filme se inicia) até a convivência com uma mãe que bem parece uma versão laica da mãe de "Carrie, a Estranha" (1976), tudo pesa contra ela. Ninguém estranhará seu comportamento francamente desequilibrado.
Apesar disso, o coreógrafo vivido por Vincent Cassel vê nela a bailarina ideal para sua montagem de "O Lago dos Cisnes". Nina ganha o papel principal. Os papéis, na verdade: o cisne branco e o negro. Inútil dizer: fazer a parte do cisne negro implicará descobrir sua "metade negra". Coisa difícil para qualquer um, que dirá para uma moça angelical como ela.
Estávamos aí, e já não estávamos tão bem assim, em termos de história. Daí vem Aronofsky e, esquecido de que seu filme anterior foi o belo, límpido, "O Lutador", opta por uma estética expressionista aplicada a um tema puramente psicológico, com vistas a impressionar os impressionáveis.
O filme verá o mundo a partir dos olhos perturbados da bailarina. O que significa cenografia fundada sobre a oposição obsessiva entre branco e preto, filmagem quase exclusivamente em interiores, câmera em movimento (não raro na mão) seguindo-a por corredores que parecem a "grande tela" da Bienal neoexpressionista de 1985, para dar ideia de perturbação, identificação entre alucinação e realidade etc.
Breve: ""Cisne Negro" lembra um concentrado de efeitos destinados a criar "arte" e "profundidade"; lembra também "O Gabinete do Dr. Caligari" (1920) sem metafísica, centrado no conflito entre as duas metades de Nina que evolui a um final imitando "O Estudante de Praga"(1913).

CISNE NEGRO

AVALIAÇÃO ruim


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