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PATRIMÔNIO
Funcionários se opõem à transferência de acervo por temer ameaça aos periódicos; para órgão, mudança visa segurança
Jornais da Biblioteca Nacional geram atrito
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Ao decidir transferir parte de
seus milhares de jornais e revistas
para um outro prédio, a direção
da Biblioteca Nacional transformou em adversários funcionários
da instituição. Os técnicos da
Coordenadoria de Publicações
Seriadas estão lutando contra a
mudança por considerá-la uma
ameaça ao patrimônio público.
Eles concordam com a necessidade da transferência para desafogar o prédio-sede -inaugurado em 1910 para abrigar 1 milhão
de peças, tem hoje mais de 8,5 milhões. Mas pedem que sejam feitas obras antes da mudança. O
primeiro documento nesse sentido é de abril de 2004. A instituição, presidida por Pedro Corrêa
do Lago, não recuou da decisão.
Em fevereiro, os técnicos divulgaram um e-mail em que diziam
que o edifício para onde o material deverá seguir em dois meses
não tem "condições mínimas para guarda de acervo, diários oficiais e jornais originais muitas vezes únicos existentes no país".
"O prédio não tem condições
climáticas nem elétricas adequadas para receber um acervo tão
frágil", afirma Maria Angélica
Brandão Varella, ex-chefe da
coordenadoria, exonerada no último dia 21. "Não há ar-condicionado, e a amperagem [intensidade da corrente] é insuficiente."
Segundo a direção da Biblioteca
Nacional, a exoneração de Varella
"foi uma decisão administrativa
interna rotineira". Mas o Conselho Regional de Biblioteconomia
considerou o ato uma retaliação à
participação dela nos protestos
contra a transferência. O conselho
enviou, na última sexta, uma carta
ao ministro Gilberto Gil (Cultura), pedindo que "interceda com a
administração da biblioteca" em
favor dos funcionários.
Na mesma sexta, fiscais do conselho foram impedidos de entrar
no "edifício anexo" para avaliar
suas condições. A direção pediu
uma solicitação oficial, que deverá ser encaminhada até amanhã.
A Folha também não teve autorização para entrar no anexo, porque, segundo a assessoria de imprensa, o prédio está em obras.
Segundo Célia Zaher, diretora
do Centro de Processos Técnicos
da biblioteca e presidente da Associação Internacional dos Bibliotecários, estão sendo feitas obras
nos banheiros, nos pisos e nas janelas do anexo, que já abriga cerca de 1 milhão de peças.
Ela diz que a transferência dos
periódicos é necessária para que
se amplie, com recursos da Fundação Vitae, a segurança dos microfilmes guardados na sede.
"Uma norma internacional conhecida de todos é que, para preservação, não se coloquem no
mesmo local os originais e as cópias, pois, em caso de desastre, os
dois estariam danificados ou perdidos. Assim, foi decidido construir um cofre contra fogo na sede
e levar os periódicos já microfilmados para o anexo, já que esses
originais não devem ser manuseados pelo público, só em caso
de pesquisador excepcional."
Os funcionários argumentam
que seria mais prático transferir
as matrizes dos microfilmes -o
que o público consulta são cópias.
Eles temem que os periódicos sejam danificados na mudança.
Dos 60 mil títulos dos periódicos, apenas 2.600 têm edições microfilmadas -exatamente as que
vão para o anexo. Os jornais e revistas que serão transferidos estão
sendo guardados em pastas e protegidos com plástico bolha. "Teria
de ser feita uma higienização antes de pôr em pastas. O papel-jornal é muito fraco e pode sofrer danos no anexo", diz Varella.
Os funcionários calculam que
cerca de 80 mil volumes (grupos
de exemplares) serão manuseados na mudança e temem pela interrupção do atendimento ao público, mas a direção da biblioteca
afirma que isto não acontecerá.
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