São Paulo, quinta-feira, 03 de março de 2005

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PATRIMÔNIO

Funcionários se opõem à transferência de acervo por temer ameaça aos periódicos; para órgão, mudança visa segurança

Jornais da Biblioteca Nacional geram atrito

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Ao decidir transferir parte de seus milhares de jornais e revistas para um outro prédio, a direção da Biblioteca Nacional transformou em adversários funcionários da instituição. Os técnicos da Coordenadoria de Publicações Seriadas estão lutando contra a mudança por considerá-la uma ameaça ao patrimônio público.
Eles concordam com a necessidade da transferência para desafogar o prédio-sede -inaugurado em 1910 para abrigar 1 milhão de peças, tem hoje mais de 8,5 milhões. Mas pedem que sejam feitas obras antes da mudança. O primeiro documento nesse sentido é de abril de 2004. A instituição, presidida por Pedro Corrêa do Lago, não recuou da decisão.
Em fevereiro, os técnicos divulgaram um e-mail em que diziam que o edifício para onde o material deverá seguir em dois meses não tem "condições mínimas para guarda de acervo, diários oficiais e jornais originais muitas vezes únicos existentes no país".
"O prédio não tem condições climáticas nem elétricas adequadas para receber um acervo tão frágil", afirma Maria Angélica Brandão Varella, ex-chefe da coordenadoria, exonerada no último dia 21. "Não há ar-condicionado, e a amperagem [intensidade da corrente] é insuficiente."
Segundo a direção da Biblioteca Nacional, a exoneração de Varella "foi uma decisão administrativa interna rotineira". Mas o Conselho Regional de Biblioteconomia considerou o ato uma retaliação à participação dela nos protestos contra a transferência. O conselho enviou, na última sexta, uma carta ao ministro Gilberto Gil (Cultura), pedindo que "interceda com a administração da biblioteca" em favor dos funcionários.
Na mesma sexta, fiscais do conselho foram impedidos de entrar no "edifício anexo" para avaliar suas condições. A direção pediu uma solicitação oficial, que deverá ser encaminhada até amanhã. A Folha também não teve autorização para entrar no anexo, porque, segundo a assessoria de imprensa, o prédio está em obras.
Segundo Célia Zaher, diretora do Centro de Processos Técnicos da biblioteca e presidente da Associação Internacional dos Bibliotecários, estão sendo feitas obras nos banheiros, nos pisos e nas janelas do anexo, que já abriga cerca de 1 milhão de peças.
Ela diz que a transferência dos periódicos é necessária para que se amplie, com recursos da Fundação Vitae, a segurança dos microfilmes guardados na sede.
"Uma norma internacional conhecida de todos é que, para preservação, não se coloquem no mesmo local os originais e as cópias, pois, em caso de desastre, os dois estariam danificados ou perdidos. Assim, foi decidido construir um cofre contra fogo na sede e levar os periódicos já microfilmados para o anexo, já que esses originais não devem ser manuseados pelo público, só em caso de pesquisador excepcional."
Os funcionários argumentam que seria mais prático transferir as matrizes dos microfilmes -o que o público consulta são cópias. Eles temem que os periódicos sejam danificados na mudança.
Dos 60 mil títulos dos periódicos, apenas 2.600 têm edições microfilmadas -exatamente as que vão para o anexo. Os jornais e revistas que serão transferidos estão sendo guardados em pastas e protegidos com plástico bolha. "Teria de ser feita uma higienização antes de pôr em pastas. O papel-jornal é muito fraco e pode sofrer danos no anexo", diz Varella.
Os funcionários calculam que cerca de 80 mil volumes (grupos de exemplares) serão manuseados na mudança e temem pela interrupção do atendimento ao público, mas a direção da biblioteca afirma que isto não acontecerá.


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