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MÚSICA
Homenageado em 1973 por Caetano Veloso e, recentemente, por grupos como Pato Fu e Mombojó, cantor reaparece
Odair José mostra o "outro lado" da MPB
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Com disco novo saindo do forno e recém-homenageado em tributo por jovens artistas insuspeitos, como Mombojó, Pato Fu e
Los Pirata, entre vários outros, o
cantor e compositor Odair José é
o maior representante da chamada música "brega" que teve seu
auge nos anos 70. Com vendas de
discos sempre muito maiores do
que de artistas como Chico Buarque e Caetano Veloso. Caetano,
aliás, foi o primeiro artista de
prestígio a chamar atenção para
Odair, com quem se apresentou
num evento da indústria fonográfica (a Phono), em 1973.
A importância de Odair também é reavaliada no livro "Eu Não
Sou Cachorro, Não", de Paulo Cesar de Araújo, que tem o cantor
como um dos personagens principais. O novo tributo segue o
mesmo caminho e se esforça para
deixar Odair com cara mais "descolada", ao mesmo tempo em que
o próprio lança disco seguindo a
própria tradição brega.
Folha - Você se sente parte da
MPB?
Odair José - A minha música faz
parte da história da música brasileira. MPB, para mim, é música
popular brasileira. Agora, existe a
música popular de Ipanema, e
dessa eu não faço parte. Tem pessoas que acham que só eles podem fazer parte da história, da
maneira deles. Outro dia mesmo
vi na televisão uma coisa absurda.
Aquele cara que toca violão e é casado com uma americana, Carlos
Lyra, dando uma entrevista dizendo "a gente não era como
Francisco Alves e Ângela Maria,
éramos rapazinhos de classe média alta que faziam música de bossa nova para tocar no nosso ambiente chique". Ah, deixa de ser
babaca. Quem é de classe média
alta e é chique não precisa falar essas coisas. Mesmo porque todos
os cantores da bossa nova são cópias do João Gilberto. E o João
Gilberto vem do interior da Bahia,
não é de classe média alta. O João
Gilberto faz música para o povão.
Folha - E quando você compunha,
tinha essa intenção de fazer música
para o "povão"?
Odair José - Eu já escutei de Beethoven a Luiz Gonzaga, de rock
pesado a Steely Dan e Crosby,
Stills, Nash & Young. Mas as minhas informações, até por eu
mesmo querer, foram sempre as
mais simples. Eu descobri que
sou, na verdade, um repórter musical. A intenção de chegar no povão havia porque a intenção era
fazer uma reportagem da vida das
pessoas. Eu poderia fazer uma
crônica do milionário que mora
na Vieira Souto, porque tanto faz
o cara ter US$ 1 bilhão ou ter R$
1.000, porque se ele estiver apaixonado ou tiver um problema
existencial, vai ser a mesma coisa.
Só que um vai sofrer num ambiente chique e o outro, num pobre. Um vai beber uísque da melhor qualidade e o outro, cachaça.
Folha - E porque você sempre escolheu fazer referência à vida de
pessoas "excluídas", como prostitutas e empregadas?
Odair José - Foi algo que aconteceu naturalmente, que eu observei. No meu começo de carreira,
fiquei dois anos tocando violão
em cabarés do Rio e convivi com
esse tipo de gente. O que eu canto,
eu vi acontecer muito naqueles
bares. Eu percebi na época que já
existiam vários segmentos musicais estabelecidos. O Roberto Carlos já tinha seu estilo. Ele cantava
o amor do portão, do namoradinho, o beijo roubado, "eu te darei
o céu". Quando, na verdade, os
namorados já estavam indo para
a cama, não estavam mais ficando
no portão. O amor já tinha ficado
adulto, e eu entrei para cantar esse
amor adulto.
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