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ÚLTIMA MODA
EM PARIS
Menos ornamentos e mais arquitetura
A idéia ambiciosa de que a moda possa ser um misto de arte, ritual, glamour, comércio,
pensamento e imagem determinante da época ganha em
Paris uma força sem igual. Por isso, centenas de jornalistas e compradores vindos de todo o mundo parecem se importar pouco
com o frio cruel, o vento gelado e
a chuva intermitente que têm
composto a atmosfera da cidade
desde o domingo, quando começou o prêt-à-porter de outono-inverno -que segue até domingo
próximo, somando 86 desfiles
principais.
Se o céu noturno está limpo,
sem nuvens, pode-se ver a Torre
Eiffel coberta de milhares de pequenas luzes, como se vestisse
um manto de lantejoulas faiscantes. Nas passarelas, porém, o brilho foi praticamente banido das
coleções, e com ele grande parte
dos encantamentos barrocos, rococós e românticos que dominaram as últimas estações.
A temporada sela o fim da ornamentação e dos efeitos ultradecorativos nas roupas -e ao mesmo tempo da feminilidade sentimental que governou boa parte
da moda nas últimas "saisons".
Os primeiros dias em Paris foram
marcados pela volta da pesquisa
arquitetônica das silhuetas, pela
ênfase na experimentação com
materiais, volumes e proporções,
por uma série de looks de linhas
enxutas, com formas modernistas ou neominimalistas, frequentemente severas e às vezes ousadas, nas principais coleções. De
quebra, emergiu uma iconografia
jovem, destemida, sofisticada e
quase intelectual da mulher
-tendência também presente
em Milão, com Prada e Jil Sander.
O estilista francês Nicholas
Ghesquière, da maison Balenciaga, esteve, até agora, na linha de
frente da moda neobarroquista.
Curiosamente, foi ele mesmo
quem criou em Paris a coleção
que melhor explorou os novos
caminhos e a nova feminilidade.
Ghesquière releu toda a obra
-temas, cores, formas- de
Cristóbal Balenciaga (1898-1972),
atualizando-a. O resultado é
magnífico, uma conversa inteligente, sofisticada e extremamente charmosa entre o gosto de nosso tempo e o modernismo do
mestre espanhol.
Yohji Yamamoto apresentou a
segunda coleção mais poderosa
em Paris. As roupas em tamanhos superdimensionados desafiam os clichês da sensualidade e
oferecem uma imagem muito
contemporânea, forte e estranhamente leve da mulher. São peças
de incrível elaboração, com cortes e abotoamentos que brincam
com o fora e o dentro, a frente e as
costas das roupas. Mais que desconstruções, as roupas propõem
reconstruções livres.
Duas vibrantes coleções também se destacaram nos primeiros
dias: a de Vivienne Westwood e a
de John Galliano para a Dior
(com um ótimo e modernizador
design das peles). Westwood e
Galliano são ingleses, e foram os
dois que conseguiram quebrar
certa severidade do início da temporada, graças à liberdade estilística que os caracteriza e à inclinação de ambos para o pop -gosto
que, às vezes, faz tanta falta às exibições parisienses.
EM MILÃO
Um grand finale com Dolce
A temporada outono-inverno
2006-2007 de Milão, que terminou
no último sábado, teve duas coleções determinantes para a moda
nos próximos tempos: a das garotas "selvagens" e intelectuais da
Prada e a das meninas neominimalistas de Raf Simons para a Jil Sander -grife alemã que era da Prada
e cuja venda para um grupo britânico foi anunciada no final da "saison" italiana. Mas outras marcas
apresentaram boas coleções no fim
da temporada, embora com doses
menores de ousadia.
A Dolce & Gabbana fez um interessante espetáculo com uma série muito sexy de looks inspirados
em uniformes militares (sobretudo o napoleônico). A grife pontuou e encerrou o desfile com levíssimos e sofisticados vestidos
estilo império, de sensualismo
mais etéreo, para contrabalançar
a tensão do estilo masculino.
Aliás, citações da vestimenta masculina apareceram bastante nas
temporadas de Milão e Paris.
A Versace optou por não fugir
de seu gosto por uma feminilidade ostensiva, mas reduziu as extravagâncias. Criou uma coleção
forte, inspirada tanto nos anos 60
quanto nos 80, com uma imagem
segura e impositiva da mulher, seja
na série de minissaias ou nos longos com cortes faustosos nas pernas -tudo baseado num design
geométrico a partir das letras V, X,
Y, W e Z. A coleção da Burberry,
desenhada por Christopher Bailey,
foi um "tour de force". Como a grife
festejou no desfile os seus 150 anos,
o estilista inglês exibiu looks que
recriam clássicos da Burberry. A
entrada final dos modelos com
guarda-chuvas, debaixo de uma
tempestade de flocos dourados, comoveu o público.
ALCINO LEITE, com Viviane Whiteman - ultima.moda@folha.com.br
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