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NA REDE
MIB - Música instrumental brasileira
Site reúne cerca de 700 verbetes sobre instrumentistas do país, como Garoto e Pixinguinha, além de dezenas de ensaios e teses universitárias sobre o assunto
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Mesmo sendo considerada
uma das mais criativas e diversificadas do mundo, comparável apenas à música cubana ou
ao jazz norte-americano, a música instrumental brasileira
não é incentivada como merece
pela indústria do disco, que nas
últimas décadas optou por investir apenas em vertentes de
consumo fácil.
"Ainda temos de aguentar, de
vez em quando, um desses chefões de gravadora dizer que a
culpa é da falta de criatividade
dos músicos", rebate a pesquisadora Maria Luiza Kfouri, 55,
que desenvolveu com Fernando Ximenes o site Músicos do
Brasil: Uma Enciclopédia Instrumental (www.musicosdobrasil.com.br), na rede desde
fevereiro.
O perfil enciclopédico não
impediu que o projeto, patrocinado pela Petrobras, fosse desde o início pensado para a internet. "Sabíamos que um projeto desta magnitude não estaria "pronto" nunca e, por isso, a
internet seria seu meio ideal,
para que possamos acrescentar
aquilo que vai, sempre, estar
faltando", diz a pesquisadora.
O site já reúne cerca de 700
verbetes com muitos dos principais instrumentistas do país,
que traçaram nos palcos e estúdios de gravação a história desta corrente musical: do flautista Pixinguinha (1897-1973) ou
do violonista Garoto (1915-1955), chegando a talentos da
cena atual, como o bandolinista Hamilton de Holanda e o
pianista André Mehmari.
Para iniciar a pesquisa, em
meados de 2006, Kfouri e Ximenes criaram uma espécie de
recenseamento, um minucioso
questionário, enviado por e-mail a centenas de instrumentistas. A pesquisa também colheu dados sobre a formação e
o "pensamento" desses músicos, mapeando assim seus mestres, influências e parceiros.
Os critérios para definir
quais músicos devem estar representados nos verbetes do site resumem-se a apenas um: só
entram os que gravaram ou
participaram de gravações de
pelo menos um disco exclusivamente instrumental.
"Não há outro critério, nem
de estilo, nem de gênero", explica Kfouri. "Tivemos de criar
essa regra, um tanto draconiana, pois se não teríamos de ter
outras vidas para poder cobrir
todos os instrumentistas brasileiros. São milhares aqueles
que acompanham cantores e
que nunca participaram de
uma gravação instrumental."
As respostas vieram em
grande volume, mas músicos
pouco afeitos ao e-mail, como o
flautista Altamiro Carrilho ou
o pianista Amilton Godoy, pediram para gravar seus depoimentos. Já o pianista Francis
Hime, curiosamente, preferiu
responder o questionário à
mão. "Ainda não conseguimos
chegar a alguns músicos, como
João Donato, Paulinho da Viola e Edu Lobo, mas estamos insistindo", conta Kfouri.
Dificuldades não faltam num
projeto tão abrangente. No caso de instrumentistas já mortos, por exemplo, a pesquisa fica mais restrita a consultas a
familiares, a poucas obras de
referência ou a sites que nem
sempre trazem dados corretos.
Mesmo assim, Kfouri observa que a situação na área da
pesquisa cultural, no Brasil,
tem melhorado. "A biblioteca
musical cresceu consideravelmente e a internet tem sido
uma ferramenta e tanto, embora muitas vezes ainda se tenha
de tomar muito cuidado com as
informações que se encontram
em determinados sites."
O site oferece também dissertações universitárias e ensaios sobre instrumentos, estilos, grupos musicais ou discos
mais significativos, escritos por
especialistas. Entre os músicos
que assinam ensaios, estão
Henrique Cazes ("O Cavaquinho") e Maurício Carrilho ("O
Violão de Sete Cordas").
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