São Paulo, quinta-feira, 03 de março de 2011

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CRÍTICA COMÉDIA

"Os 39 Degraus" concretiza mágica do engenho cênico

Montagem de Alexandre Reinecke traz filme de Hitchcock para os palcos

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

O teatro como uma caixa de brinquedos. "Os 39 Degraus", espetáculo criado a partir de um dos primeiros filmes de Alfred Hitchcock (1899-1980), resgata singelos truques da maquinaria cênica para divertir.
Filmado em 1935 e refletindo com ironia as tensões de uma grande guerra iminente, o roteiro do grande cineasta foi, 50 anos depois, adaptado pelo ator, dramaturgo e comediante inglês Patrick Barlow.
Sucesso imediato no West End londrino e na Broadway, chega ao Brasil pelas mãos de Alexandre Reinecke.
Com a colaboração de Clara Carvalho, o diretor traduziu e adaptou a peça respeitando a intenção de Barlow de realizar todas as peripécias do roteiro original com apenas quatro atores. Essa constrição, mais do que propor uma gincana de trocas de figurino e de desdobramentos dos personagens à vista do público, valoriza o mágico poder de iludir com um mínimo de elementos que o engenho cênico toma emprestado do faz-de-conta infantil.
Ainda que haja o mérito indiscutível de concretizar com a eficácia dos efeitos pretendidos todas as geringonças criadas nas montagens estrangeiras, não passará despercebido que Reinecke basicamente as reproduziu iguaizinhas, com variações mínimas.

REGISTRO HQ
A interpretação próxima da caricatura, no registro das histórias em quadrinhos, também é emprestada, bem como as marcas sincopadas nos gestos e movimentos.
Estas, particularmente, encantam a assistência pela precisão. A trama torna-se um mero pretexto, e todas as atenções se focam no desempenho dos atores.
Cada um deles enfrenta isso como pode, combinando seus recursos e experiências anteriores com a partitura importada. Dan Stulbach, o nome mais conhecido, cumpre galhardamente o que lhe é exigido, revelando a flexibilidade de ir além do que seria a sua zona de conforto, no registro naturalista.

DISTÂNCIA CRÍTICA
Stulbach brinca com a sua condição de astro televisivo e dá conta da construção mais caricata. Mantém, contudo, uma curiosa, e talvez involuntária, distância crítica da máscara cômica. Fabiana Gugli, vinda de trabalhos mais ambiciosos com Gerald Thomas, revela-se uma comediante cheia de recursos, desenhando nas três personagens que habita minuciosos percursos gestuais, tão bem delineados que flertam com o exagero.
Danton Mello surpreende pela facilidade e desenvoltura com que trafega pelos tipos que lhe cabem.
Ele tem como parceiro decisivo Henrique Stroeter, o mais habituado entre os quatro à caracterização exacerbada. Como vero palhaço, está tão à vontade que acaba produzindo os desvios mais flagrantes do modelo.
No geral, abusa-se da jogada, típica da farsa e do humor circense, de repetir uma ação tantas vezes ao ponto de exasperar aqueles com quem se contracena.
Mas este excesso acaba sendo o traço mais brasileiro da encenação. "Os 39 Degraus" faz rir à farta e reitera a força irresistível da trucagem teatral.

OS 39 DEGRAUS

QUANDO sex., às 21h30; sáb., às 21h; e dom., às 18h30; até 13/3
ONDE Teatro Shopping Frei Caneca (r. Frei Caneca, 569; tel. 0/xx/11/3472-2226)
QUANTO de R$ 70 a R$ 90
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO bom


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