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TEATRO
Em "Espumas Flutuantes', que estréia hoje, atores declamam os versos do poeta baiano que falavam de amor
Peça explora o lado lírico de Castro Alves
LEONARDO CRUZ
free-lance para a Folha
No texto que escreveu para o
prefácio do livro "Espumas Flutuantes", Manuel Bandeira destacava o impacto provocado pela
declamação dos poemas de Castro
Alves, classificando-os como "verdadeiros discursos de poeta-tribuno", "escritos para serem recitados em praça pública, teatros ou
grandes salas".
Tentando resgatar essa veia discursiva da obra de Castro Alves, o
diretor teatral Pascoal da Conceição selecionou 12 poemas e uma
cena de uma peça do autor e montou o seu "Espumas Flutuantes",
espetáculo em que sete atrizes e
um ator declamam os versos do
poeta baiano.
A peça, que estréia hoje no teatro
Bibi Fereira, começa com "O Vôo
do Gênio", declaração de amor à
atriz Eugênia Câmara. A escolha
desse poema para a abertura de
"Espumas Flutuantes" reflete uma
preocupação do diretor: mostrar o
lado lírico da obra de Castro Alves,
fugindo um pouco da obra social
(em geral, abolicionista) que consagrou o poeta.
"Não quero o Castro Alves "heróico', autor de "Navio Negreiro',
quero o Castro Alves "gente', a
pessoa comum que potencializou
na poesia seus amores e suas angústias", afirma Conceição.
Segundo ele, a principal dificuldade enfrentada na montagem foi
a adaptação dos versos para o palco. "O enredo de uma peça normal
tem começo, meio e fim, e o público está acostumado a isso. Com a
poesia, você não tem esse roteiro,
cada poema conta uma pequena
história", diz.
Para driblar esse problema, o diretor musicou quatro poemas de
Castro Alves e estruturou a montagem de forma que ela pudesse
ser associada às diferentes fases da
vida do escritor.
Com essa estrutura, Conceição
tenta explicar como poemas românticos e sociais podem ser declamados em sequência, sem provocar estranhamento.
"Em "O "Adeus de Tereza', o poeta se despede de sua amada, vai
embora. Em "Ode ao Dous de Julho', ele retrata o conflito entre
baianos e portugueses em Salvador. Quando os dois são recitados
em sequência, tem-se a impressão
que o poeta deixou sua amada e
partiu para a guerra."
O diretor afirma ainda que está
em negociação com um banco para tentar o patrocínio do espetáculo. "Se o projeto for aprovado, faremos 151 apresentações gratuitas,
já que neste ano comemora-se os
151 anos do nascimento de Castro
Alves."
Peça: Espumas Flutuantes
Direção: Pascoal da Conceição
Quando: hoje, às 20h30 (estréia); todas as
terças-feiras
Onde: teatro Bibi Ferreira (av. Brigadeiro
Luis Antônio, 931, tel. 011/605-3129)
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (estudantes)
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