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Mostras questionam formas de percepção
da Reportagem Local
Com obras do paulista Iran do
Espírito Santo no andar térreo e
do inglês radicado em Nova York
Matthew Ritchie no mezzanino, a
galeria Camargo Vilaça inicia suas
atividades de 1998.
Totalmente distintas em uma
primeira observação, as duas
mostras chegam a estabelecer um
diálogo, já que ambas tentam tratar, cada uma à sua maneira, das
formas de percepção do mundo.
Matthew busca produzir em suas
pinturas uma versão própria para
a origem do universo, que reúna
todas as suas incertezas, sejam elas
científicas ou místicas.
Também é baseado na incerteza
-da percepção e da apreensão da
realidade- que Iran cria suas peças, sempre com grande refinamento e elegância.
Os quatro trabalhos da série
"Restless" são os que trabalham
com essa incerteza de maneira
mais evidente. Em uma primeira
visão, lembram vidros e espelhos
encostados na parede. Um segundo olhar revela que se trata de um
vidro apenas, que, trabalhado, ilude com suas transparências, reflexos e opacidades e questiona a visão que o espectador tem do espaço dado e do real.
Com Iran, a percepção não se
acomoda, incomoda. Questiona a
percepção de um mundo criado a
partir de idéias e conceitos. "Existe
sempre uma ansiedade e uma angústia pela apreensão da realidade, mas que escapa a toda hora",
disse.
Também em vidro, "One Way"
mostra as três setas recorrentes em
embalagens recicláveis. "É um
símbolo que sempre me intrigou
muito, pois tem um significado
técnico positivo, mas ao mesmo
tempo sinistro, porque indica
uma falta de saída, algo que não se
resolve", disse.
Os trabalhos apresentados ilustram ainda o interesse e a familiaridade de Iran com diversos materiais: vidro, granito, alumínio e
vários outros metais. "Esse meu
interesse por materiais e também
técnicas industriais ou artesanais é
uma forma que encontro para dar
uma referência mais concreta ao
fazer artístico. Sempre procuro
um ponto intermediário entre a
abstração e a realidade concreta."
Algo semelhante se passa com a
obra de Matthew Ritchie, que esteve na última bienal do Whitney
Museum (NY). Suas telas e desenhos de parede tentam montar
uma nova história do universo a
partir de elementos científicos e
místicos. "Estou tentando fazer
mapas daquilo que não podemos
explicar", disse.
"Loaded", por exemplo, reúne,
como em um enorme quebra-cabeças, seres mitológicos, procedimentos alquímicos, cálculos científicos, constelações imaginárias.
"Milhões de anos depois do big
bang ainda estamos tentando reunir os cacos. Não temos certeza de
nada. Mesmo o big bang é uma
teoria especulativa, é um projeto
cultural que reflete um desejo de
unidade", disse.
Outra influência facilmente reconhecível são as histórias em
quadrinhos, como na pequena tela
"The Working Group", que apresenta os anjos Metatron, Souriel e
Tamuel como responsáveis pela
criação e equilíbrio do universo.
"Como na mitologia, os quadrinhos trabalham com arquétipos.
Eles contam histórias de glórias e
fazem coisas que só podemos imaginar", disse.
Depois de São Paulo, Matthew
prossegue em sua sua busca pelo
início do universo ainda no Brasil.
Vai a Piauí para visitar os sítios arqueológicos do estado.
(CF)
Mostras: Iran do Espírito Santo (dez
objetos, esculturas e pinturas) e Matthew Ritchie (três pinturas e desenhos
na parede)
Onde: galeria Camargo Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, tel.
011/210-7390, Vila Madalena)
Vernissage: hoje, às 20h
Quando: de segunda a sexta, das 10h
às 19h; sábado, das 10h às 14h
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