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MÚSICA
Em entrevista à Folha, crítico americano comenta relação com o rock
Obra traz ensaios ácidos de Greil Marcus
ALEXANDRE MATIAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"É um encontro cara a cara com
todo o terror que a mente consegue juntar; movendo-se rapidamente sem jamais brecar, para
que homens e mulheres tenham
que vencer o terror em seu próprio passo." Toda tensão da descrição acima parece referir-se a
um momento histórico e emblemático -e realmente é. É assim
que o crítico musical norte-americano Greil Marcus se referiu, à
época, à "Gimme Shelter", dos
Rolling Stones.
Um dos textos mais respeitados
quando o assunto é música popular do século 20, Marcus é um dos
responsáveis pela edificação da
importância histórica do rock,
que lhe deu sobrevida para além
dos anos 60 e o mantém de pé até
hoje. Ao lado de nomes como Richard Meltzer, Nik Cohn e Lester
Bangs, ele compôs a primeira geração de críticos de rock como
observadores da sociedade.
Uma amostra de sua obra foi
reunida na coletânea de ensaios
"A Última Transmissão" (Conrad, 160 páginas, R$ 24,50). Ele
conversou com a Folha por e-mail e falou sobre seu livro mais
recente, "Like a Rolling Stone",
dedicado unicamente à canção de
mesmo título de Bob Dylan.
Folha - Como você se envolveu
com a crítica musical? Você imaginava que escrever sobre música se
tornaria uma carreira?
Greil Marcus - Comecei a escrever sobre música na universidade,
para as aulas, em 1965. Em 1968,
comecei a escrever para a "Rolling
Stone". Achava que as resenhas
da revista eram ruins -pois escreviam apenas sobre as letras e
não sobre o som- e pensei que
eu pudesse fazer melhor. Eu não
tinha a menor intenção em fazer
uma carreira escrevendo sobre
música até que dei aula em Berkeley por um ano e descobri que eu
não sirvo para ser um professor.
Eu não tenho paciência com os
alunos. Por isso, parei de dar aulas. Comecei a escrever um livro
sobre rock'n'roll e cultura americana, que retomava todo o trabalho que eu havia feito em Berkeley. Foi publicado em 1975, com o
título de "Mystery Train".
Desde então, escrevi em vários
periódicos, escrevi livros e dei palestras. Comecei a dar aulas novamente em Berkeley e Princeton,
onde continuo a lecionar até hoje.
Desde então, aprendi a ser paciente e ouvir os alunos, em vez de
lhes dizer como pensar.
Folha - A crítica é necessária ao
trabalho do artista?
Marcus - Não.
Folha - Então, por que continuamos lendo e escrevendo sobre arte
e música?
Marcus - Algumas pessoas podem escrever sobre arte de uma
forma que amplia a experiência
que já existe originalmente, ou a
sensibilidade que ela pode trazer.
Mas eu também não acho que a
arte precisa ser explicada para ser
compreendida. Eu sempre acreditei que tudo que estou fazendo é
elaborar respostas que qualquer
um pode ter em relação a certos
artefatos ou eventos estéticos.
Não estou contando nada que eles
não saibam, estou apenas retirando a resposta que já está presente.
Folha - Você acha que a música
está perdendo seu valor emocional, à medida em que estão disponíveis a um clique do mouse e enquanto a indústria do disco a trata
apenas como um produto?
Marcus - Não sei. Outro dia, ouvi
"Concrete Jungle", dos Wailers,
no rádio e foi como se eu nunca a
tivesse ouvido. Parecia sobrenatural, com sua força e profundidade. As pessoas continuam fazendo música pelos mesmos motivos
de sempre: para sentir o que outros sentiram quando fizeram os
sons que fizeram.
Folha - Como "Like a Rolling Stone" virou um livro?
Marcus - Culpa do Clive Priddle,
editor da ForeignAffairs de Nova
York, que me ligou e disse que
queria que eu escrevesse um livro
sobre a canção. Eu disse "não",
mas eu não conseguia parar de
pensar naquilo. Me encontrava
escrevendo notas e até escrevi a
introdução em menos de uma hora. Tornou-se um desafio. O escrevi muito rapidamente.
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