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EMI relança clássicos da MPB
Embora feita com encartes paupérrimos, coleção Clássicos Odeon vale pela recuperação dos álbuns
Lançamento traz gravações de Sylvia Telles e Marcos Valle. Dos dez álbuns, seis nunca haviam saído
em CD no Brasil
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Com encartes paupérrimos e
o descuido que marca os relançamentos da EMI, estão nas lojas dez títulos da série Clássicos
Odeon. Do lote, quatro nunca
tinham saído em CD e os dois
de Marcos Valle só eram encontráveis no exterior ou, para
importar, na internet.
É claro que não há nenhuma
curadoria que explique o porquê de serem esses dez e não
tantos outros do acervo Odeon
que permanecem nos arquivos
da EMI, mas o negócio é aproveitar antes que saiam de catálogo. O melhor relançamento,
por exemplo, já tivera uma versão digital, mas estava sumido.
Em 1959, Sylvia Telles dedicou todo o disco "Amor de Gente Moça" à obra ainda nova de
Antonio Carlos Jobim. E teve a
coragem de fazê-lo um ano depois de Elizeth Cardoso gravar
"Canção do Amor Demais", só
com Tom e Vinicius de Moraes.
Com orquestrações do maestro Gaya, o disco é impecável,
reunindo alguns sambas que se
tornariam clássicos da bossa
nova, como "Fotografia" e "A
Felicidade", a fossa "Demais" e
a villa-lobiana "Canta, Canta
Mais", que nunca mereceu o
devido reconhecimento.
Poucas cantaram Tom Jobim
como Sylvinha, e sua morte
precoce, aos 35 anos, foi uma
grande violência contra a música brasileira.
Tradição carioca
Outra intérprete marcante
da bossa nova, Leny Andrade,
que sempre foi múltipla, aparece aqui em outras versões. No
seu segundo disco ao vivo com
Pery Ribeiro, "Gemini Cinco
Anos Depois" (1972), ela e ele
cantam Milton Nascimento,
Caetano Veloso, Villa-Lobos,
Michel Legrand, e ainda fazem
uns jograis de gosto duvidoso.
O primeiro encontro tinha sido
melhor.
E também é melhor "Leny
Andrade" (1975), em que ela
praticamente só canta sambas
da tradição carioca, incluindo
dois belos de Wilson Moreira.
Mas há espaço para sambas
baianos e um clássico samba-canção: "Folha Morta" (Ary
Barroso).
Segunda fornada
Dos dois discos relançados
de Marcos Valle, o primeiro, "O
Compositor e o Cantor" (1965),
é bossa nova, tendo à frente
"Samba de Verão", que estourara nos EUA no ano anterior, e
o macambúzio "Preciso Aprender a Ser Só". Já o segundo,
"Viola Enluarada" (1967), tem
um acento mais social, com a
marca da época.
Embora esta segunda faceta
não seja a melhor de Valle, sua
riqueza como músico e compositor torna as criações mais longevas do que as de Geraldo
Vandré, cujo "Canto Geral"
(1968) -que já saíra em CD-
envelheceu nessas quatro décadas. Depois desse disco e do
"sucesso" de "Caminhando
(Pra Não Dizer que Não Falei
de Flores)", Vandré foi preso,
exilado e não reengrenou sua
carreira.
Outros dois discos que já tinham aparecido em CD e merecem a segunda fornada são:
"Sueli Costa", em que a grande
compositora (e não tanto cantora) mostra algumas de suas
belas músicas, como "Dentro
de Mim Mora um Anjo" e "Coração Ateu", que tocavam em
novelas globais de então; e
"Paulistana", homenagem a
São Paulo do paraense e co-autor da "Sinfonia do Rio de Janeiro" Billy Blanco, com participações de Elza Soares, Miltinho e outros, e na qual está o
"Tema de São Paulo" ("São
Paulo que amanhece trabalhando/ São Paulo que não sabe
adormecer").
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