São Paulo, terça-feira, 03 de abril de 2007

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EMI relança clássicos da MPB

Embora feita com encartes paupérrimos, coleção Clássicos Odeon vale pela recuperação dos álbuns

Lançamento traz gravações de Sylvia Telles e Marcos Valle. Dos dez álbuns, seis nunca haviam saído em CD no Brasil


LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Com encartes paupérrimos e o descuido que marca os relançamentos da EMI, estão nas lojas dez títulos da série Clássicos Odeon. Do lote, quatro nunca tinham saído em CD e os dois de Marcos Valle só eram encontráveis no exterior ou, para importar, na internet.
É claro que não há nenhuma curadoria que explique o porquê de serem esses dez e não tantos outros do acervo Odeon que permanecem nos arquivos da EMI, mas o negócio é aproveitar antes que saiam de catálogo. O melhor relançamento, por exemplo, já tivera uma versão digital, mas estava sumido.
Em 1959, Sylvia Telles dedicou todo o disco "Amor de Gente Moça" à obra ainda nova de Antonio Carlos Jobim. E teve a coragem de fazê-lo um ano depois de Elizeth Cardoso gravar "Canção do Amor Demais", só com Tom e Vinicius de Moraes.
Com orquestrações do maestro Gaya, o disco é impecável, reunindo alguns sambas que se tornariam clássicos da bossa nova, como "Fotografia" e "A Felicidade", a fossa "Demais" e a villa-lobiana "Canta, Canta Mais", que nunca mereceu o devido reconhecimento.
Poucas cantaram Tom Jobim como Sylvinha, e sua morte precoce, aos 35 anos, foi uma grande violência contra a música brasileira.

Tradição carioca
Outra intérprete marcante da bossa nova, Leny Andrade, que sempre foi múltipla, aparece aqui em outras versões. No seu segundo disco ao vivo com Pery Ribeiro, "Gemini Cinco Anos Depois" (1972), ela e ele cantam Milton Nascimento, Caetano Veloso, Villa-Lobos, Michel Legrand, e ainda fazem uns jograis de gosto duvidoso. O primeiro encontro tinha sido melhor.
E também é melhor "Leny Andrade" (1975), em que ela praticamente só canta sambas da tradição carioca, incluindo dois belos de Wilson Moreira. Mas há espaço para sambas baianos e um clássico samba-canção: "Folha Morta" (Ary Barroso).

Segunda fornada
Dos dois discos relançados de Marcos Valle, o primeiro, "O Compositor e o Cantor" (1965), é bossa nova, tendo à frente "Samba de Verão", que estourara nos EUA no ano anterior, e o macambúzio "Preciso Aprender a Ser Só". Já o segundo, "Viola Enluarada" (1967), tem um acento mais social, com a marca da época.
Embora esta segunda faceta não seja a melhor de Valle, sua riqueza como músico e compositor torna as criações mais longevas do que as de Geraldo Vandré, cujo "Canto Geral" (1968) -que já saíra em CD- envelheceu nessas quatro décadas. Depois desse disco e do "sucesso" de "Caminhando (Pra Não Dizer que Não Falei de Flores)", Vandré foi preso, exilado e não reengrenou sua carreira.
Outros dois discos que já tinham aparecido em CD e merecem a segunda fornada são: "Sueli Costa", em que a grande compositora (e não tanto cantora) mostra algumas de suas belas músicas, como "Dentro de Mim Mora um Anjo" e "Coração Ateu", que tocavam em novelas globais de então; e "Paulistana", homenagem a São Paulo do paraense e co-autor da "Sinfonia do Rio de Janeiro" Billy Blanco, com participações de Elza Soares, Miltinho e outros, e na qual está o "Tema de São Paulo" ("São Paulo que amanhece trabalhando/ São Paulo que não sabe adormecer").


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