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Crítica
"A Rainha" vai além da verdade dos "fatos reais"
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Michael Sheen parece Tony
Blair em "A Rainha" (TC Premium, 23h35). Mas, logo de
saída, sabemos que não é ele.
Helen Mirren parece Elizabeth
2ª, mas, desde cedo, sabemos
que não é a mesma pessoa.
Eles se esforçam tremendamente para repetir tiques, modos de falar, maneiras dos personagens. Imagino que outros
personagens, que conheço menos, também. Mas isso é quase
uma coqueteria de Stephen
Frears. Ele sabe que o destino
de seu filme não depende dessa
semelhança ser maior ou menor. A imperfeição é, no caso,
inerente à empreitada.
O que Frears se empenha, de
todo modo, não é em reproduzir "fatos reais" que estariam
na base de seu filme: os fatos
que cercam a família real inglesa e seu premiê imediatamente
após a morte de Diana.
O que dá verdade ao filme
não é a realidade anterior, é a
maneira como dispõe os personagens em relação uns aos outros, à mídia, ao povo inglês.
Afinal, a verdade, na representação do "fato real", nunca vem
do "fato real".
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