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Crítica
Retrato de guerra só se compara a "Apocalipse Now"
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Enquanto as HQs com
simbolismo politizado
transferem-se para o
cinema despojadas de crítica e
cinismo, a animação vem se
tornando um terreno fértil para filmes falarem abertamente
de política e ao mesmo tempo
seduzirem públicos que não estão interessados em discursos.
Depois do delicioso "Persépolis", de Marjane Satrapi,
"Valsa com Bashir" inventa o
que seu diretor, Ari Folman,
chama de "documentário de
animação" para reconstituir
um dos episódios mais aterradores do eterno confronto entre Israel e o mundo árabe no
Oriente Médio: o massacre de
Sabra e Shatila.
Além das vantagens de reconstituir espaços e acontecimentos, a escolha da animação
permite a Folman deixar aberta e evidente a face subjetiva de
seu projeto documental.
Por ser um relato em primeira pessoa, marcado por traumas e lembranças vividas, a
animação, com suas cores, texturas, distorções e, sobretudo,
poder de invenção oferece ao
filme a oportunidade de reconstituir fatos recriando-os
com a força do imaginário.
Desse modo, a guerra, com
suas atrocidades de hábito, ressurge de um modo como vimos
no cinema apenas em "Apocalipse Now" (aliás citado explicitamente no filme): como alucinação, delírio, brutal irracionalidade disfarçada de "razão".
Como não se trata de maquiar nem de tentar embelezar
o que (talvez ainda mais para
judeus) é mais abjeto -a destruição, o genocídio-, o filme
não nos poupa de exibir as imagens diante das quais só conseguimos reagir com uma expressão: "O horror, o horror".
VALSA COM BASHIR
Direção: Ari Folman
Onde: estreia hoje nos cines HSBC Belas Artes, Pátio Higienópolis e circuito
Classificação: não indicado a menores
de 18 anos
Avaliação: ótimo
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