São Paulo, sexta-feira, 03 de abril de 2009

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Crítica

Retrato de guerra só se compara a "Apocalipse Now"

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Enquanto as HQs com simbolismo politizado transferem-se para o cinema despojadas de crítica e cinismo, a animação vem se tornando um terreno fértil para filmes falarem abertamente de política e ao mesmo tempo seduzirem públicos que não estão interessados em discursos.
Depois do delicioso "Persépolis", de Marjane Satrapi, "Valsa com Bashir" inventa o que seu diretor, Ari Folman, chama de "documentário de animação" para reconstituir um dos episódios mais aterradores do eterno confronto entre Israel e o mundo árabe no Oriente Médio: o massacre de Sabra e Shatila.
Além das vantagens de reconstituir espaços e acontecimentos, a escolha da animação permite a Folman deixar aberta e evidente a face subjetiva de seu projeto documental. Por ser um relato em primeira pessoa, marcado por traumas e lembranças vividas, a animação, com suas cores, texturas, distorções e, sobretudo, poder de invenção oferece ao filme a oportunidade de reconstituir fatos recriando-os com a força do imaginário.
Desse modo, a guerra, com suas atrocidades de hábito, ressurge de um modo como vimos no cinema apenas em "Apocalipse Now" (aliás citado explicitamente no filme): como alucinação, delírio, brutal irracionalidade disfarçada de "razão". Como não se trata de maquiar nem de tentar embelezar o que (talvez ainda mais para judeus) é mais abjeto -a destruição, o genocídio-, o filme não nos poupa de exibir as imagens diante das quais só conseguimos reagir com uma expressão: "O horror, o horror".


VALSA COM BASHIR

Direção: Ari Folman
Onde: estreia hoje nos cines HSBC Belas Artes, Pátio Higienópolis e circuito
Classificação: não indicado a menores de 18 anos
Avaliação: ótimo



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