|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Cao Guimarães junta presente e passado em vídeos e fotografias
Artista mineiro tem individual aberta hoje na galeria Nara Roesler, em SP
DA REPORTAGEM LOCAL
No meio da paisagem que
avança, um retrovisor mostra o
que ficou para trás. São tempos
perdidos, indissociáveis e ao
mesmo tempo cindidos, que
Cao Guimarães gosta de visitar.
Na individual que abre hoje
na galeria Nara Roesler, o artista revisita o interior mineiro
que dilatou e contraiu nas sequências de seu longa "Andarilho". À beira da estrada, fotografou placas cobertas de pó,
"buracos negros na paisagem",
enquanto, num vídeo que fez
na Grécia, tenta recortar o passado dentro do presente.
"Você está indo em direção a
alguma coisa, mas tem no meio
algo que ficou para trás", descreve Guimarães, 44. "É uma
relação imediata entre o futuro,
o passado e o presente."
No vídeo, um espelho retrovisor colado no meio de um para-brisa parece navegar pela
paisagem, desconectado do
mundo, alheio, como uma janela teimosa para a lembrança.
Do mesmo jeito que na série
das placas cobertas de pó um
vão geométrico se forma no horizonte, bloco maciço de cor
que esfacela a perspectiva e a
própria noção de tempo.
"Eu sou esse tempo lento, rural, esse tempo mais morto",
diz ele. "Prefiro a paisagem
com menos ruído, a profundidade chapada, as placas que desorganizam o ponto de fuga."
A série, aliás, são só pontos de
fuga. Quebrando o movimento
do vídeo, Guimarães congela
aqui só os pontos de interesse,
os acúmulos de formas negativas que se prestam à fusão que
faz do presente com o passado.
Na sala ao lado, 16 espantalhos de uma lavoura mineira
são retratados em tom documental. Guimarães depois encomendou à dupla O Grivo,
com quem trabalhou em seus
filmes, uma trilha sonora, dessa
vez para as imagens paradas.
Escolheram o canto dos pássaros e o barulho do vento para
ninar os espantalhos -congelados em série, fora de qualquer
narrativa, são só instantes privilegiados, as ervas daninhas e
as pragas da memória.
(SM)
CAO GUIMARÃES
Quando: de seg. a sex., das 10h às
19h; sáb., das 11h às 15h; até 16/5
Onde: Nara Roesler (av. Europa,
655, tel. 0/xx/11/3063-2344)
Quanto: entrada franca; livre
Texto Anterior: Extravagância de Dubai se tornou uma caricatura da arquitetura, diz Koolhaas Próximo Texto: Televisão/Internet: Programa mostra bastidores do Google Índice
|