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CONCERTO CRÍTICA
Orquestra, regente e até filha tiram o brilho de Montserrat Caballé
IRINEU FRANCO PERPETUO
especial para a Folha
Desorganização, orquestra e regente foram os principais adversários da soprano Montserrat Caballé em seu concerto de anteontem à
noite, no Teatro Municipal de São
Paulo.
A bagunça imperou na distribuição dos convites, que fazia um público ruidoso se digladiar por lugares, com muita gente assistindo
à récita de pé.
Vendidos por nada módicos R$
10, os programas se evaporaram
rapidamente; e as partituras de orquestra também demoraram a
chegar, restringindo o número de
ensaios.
Mas a falta de ensaios só explica
uma parte dos problemas da Sinfônica de Porto Alegre. O nível da
orquestra decaiu visivelmente; o
conjunto é pesado, com trompas,
trombones e fagotes constrangedores.
O maestro Cláudio Ribeiro revelou-se pouco mais do que um metronômo, limitando-se a contar o
tempo -e nem sempre com precisão.
A verdadeira regente foi Montserrat Caballé, como ficou demonstrado na ária "Di Tanti Palpiti", da ópera "Tancredi", de
Rossini, na qual, com um gesto
peremptório, a soprano resolveu a
confusão que imperava no acompanhamento orquestral.
Desta forma, deve ser imputada
a Caballé, e não a Ribeiro, a excessiva lerdeza nos andamentos do
dueto "Viens, Malika", da "Lakmé", de Delibes, e da "Habanera",
da "Carmen", de Bizet, que, de tão
arrastados, estavam quase irreconhecíveis.
A soprano Montse Martí, filha
de Caballé, pode não ter sido uma
adversária, mas certamente não
foi uma aliada.
Sua participação musical mais
interessante foi tocar castanholas
no "Bolero" da zarzuela "Los Diamantes de la Corona", de Barbieri.
Ocupou uma parte grande demais do programa, aparecendo
quase tanto quanto a mãe, sem demonstrar méritos para tanto.
Quem pagou para ouvir Caballé
merecia coisa melhor que essa
cantora comum, que teve problemas de afinação em "Quando
Me'n Vo", de "La Bohème", de
Puccini.
Aos 64 anos, Caballé não tem
mais o vigor e o volume da juventude, mas ainda conserva muitas
qualidades dignas de serem ouvidas.
O fôlego continua o mesmo, e os
pianíssimos seguem sendo inacreditáveis.
Sua presença de palco também é
marcante, bem como a capacidade
de se comunicar com o público.
Em um programa que mesclava
ópera e zarzuela, este último gênero foi bem mais interessante;
atuando em seu próprio idioma,
Caballé foi magnética, expressiva
e cativante.
Em resumo: apesar da idade,
Montserrat Caballé conseguiu demonstrar por que ainda é considerada uma das maiores sopranos
do século.
Pena que tinha tanta gente tentando atrapalhar.
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