|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para líderes indígenas, projeto é neocolonialista
da Reportagem Local
Fruto de lobbies econômicos,
neocolonialista, ridículo. As críticas contra o memorial que se pretende erguer na Coroa Vermelha
ganham força sobretudo entre antropólogos, organizações não-governamentais e líderes indígenas.
Conheça as mais contundentes
-e também os argumentos favoráveis à iniciativa.
O ataque
Celene Fonseca, antropóloga:
"O Museu Aberto do Descobrimento e o Memorial do Encontro
são um deboche. Expõem o país ao
ridículo.
A trapalhada começa logo nos
nomes. A expressão "descobrimento' é eurocêntrica. Despreza
os povos que habitavam o Brasil
antes de 1500. Desqualifica-os, não
os trata como seres humanos. Coloca-os no mesmo patamar dos
acidentes geográficos, das florestas, dos mares. Encara-os como
parte da natureza e não da cultura.
Já o termo "encontro' soa eufemístico. Disfarça a desconfiança
recíproca, a tensão que sempre
marcou o contato entre índios e
europeus.
Do jeito que estão conduzindo a
coisa, teremos uma festa portuguesa dentro do Brasil -o que é
inaceitável."
Sumário Santana, integrante
do Conselho Indigenista Missionário (entidade ligada à Igreja
Católica): "O memorial propõe
que as nações indígenas se transformem, de novo, em uma peça da
engrenagem que sustenta o modelo branco de desenvolvimento
econômico.
Para estimular o turismo na região, propaga o mito da democracia racial e explora a imagem do
índio folclórico. É um empreendimento triunfalista, que banaliza a
cultura e o cotidiano dos pataxós."
Maninha Xucuru-Cariri, coor
denadora da Apoinme (Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito
Santo): "Com o memorial, o governo desrespeita as etnias que resistiram à truculência dos brancos
nos últimos cinco séculos.
Não basta argumentar que o
projeto vai melhorar as condições
materiais dos pataxós. Nenhum
dinheiro paga o olhar equivocado
que o país insiste em lançar sobre
os índios."
Marcos Terena, articulador dos
direitos indígenas junto à Organização das Nações Unidas
(ONU): "O memorial cristaliza
uma interpretação ainda colonialista da história. Em muitas tribos
do Brasil, não se faz idéia do que
sejam os 500 anos. Os índios contam o tempo de outra maneira."
A defesa
Ministro Lauro Moreira, presidente da Comissão Nacional para
as Comemorações do 5º Centenário do Descobrimento: "Os pataxós são os grandes beneficiários
do memorial. A iniciativa vai tirá-los da pobreza em que se encontram e recuperar uma área de
importância histórica.
Rejeito a tese de que não há o
que comemorar. É uma posição
sectária, passadista, que toma os
índios como únicos habitantes da
terra.
Quem não quiser que deixe de
festejar a chegada dos portugueses. Mas que celebre, pelo menos,
os 500 anos de Brasil, os cinco séculos de mistura racial, o maior
patrimônio que todos nós temos."
Wilson Reis Netto, arquiteto,
autor do projeto do memorial:
"Independentemente de agradar
índios ou portugueses, o que me
interessa é exaltar a miscigenação,
o sincretismo. Quero espelhar a
índole do brasileiro -um povo
que vivencia profundamente o espetáculo, que se sacrifica para
conviver com a beleza."
(AA)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|