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A TRILHA
CD é pequena maravilha de Philip Glass
JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local
Se Martin Scorsese fosse um cineasta superficial e medíocre,
mesmo assim Philip Glass, 62, teria
construído para "Kundun" uma
dimensão musical de inteligência e
profundidade. Ele escreveu bem
mais que uma trilha sonora.
Compôs, em verdade, o retrato
de um pequeno segmento na evolução de seu experimentalismo como músico de vanguarda. O CD
tem autonomia como objeto. Não
precisa evocar o filme para ser prazerosamente consumido.
É um poema sinfônico em 18 movimentos de uma sonoridade entre
épica e mística, em que o minimalismo -corrente da qual Glass foi
o principal animador a partir dos
anos 60- assume maior flexibilidade. Há a reintrodução de longas
sequências melódicas que se sobrepõem a pequenos segmentos
harmônicos -os "mínimos"-
em constante repetição.
É ainda uma música que pode ser
consumida ao menos em dois planos. No primeiro deles, a beleza
das sensações sonoras que ela provoca. No segundo, uma espécie de
transparência da receita a partir da
qual ela é montada, como se fosse a
justaposição em vários planos de
peças de um jogo.
Os contrastes de sonoridades são
de uma linda sutileza. Há instrumentos tradicionais, como o contrabaixo e o fagote, a flauta piccolo
e o oboé, e outros, como a marimba e o corno ou tambor tibetanos,
que fornecem à música a evocação
de seu alicerce narrativo.
Em suma, algo de absolutamente
sofisticado e atípico para os padrões hollywoodianos. É tão preciosamente inteligente que perdeu
no ano passado o Oscar de trilha
sonora para o ultraconvencional e
melodramático "Titanic".
Disco: trilha de Kundun
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 18 (em média)
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