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TELEVISÃO
Programa sobre música erudita, projeto de Ricardo Kanji e Ricardo Maranhão, é exibido na TV Cultura
"História da Música Brasileira" estréia hoje
ANA SAGGESE
especial para a Folha
No rastro das comemorações
dos 500 anos, o Brasil descobre sua
música erudita, que por pouco não
foi devorada pelas traças. Segundo
pesquisadores, apenas 10% das
partituras da música brasileira colonial resistiram ao tempo.
O projeto "História da Música
Brasileira", composto por 15 programas de vídeo e seis CDs (selo
Eldorado), resgata uma lacuna historiográfica de extrema relevância.
A série, que estréia hoje, às
19h30, na TV Cultura, foi realizada
com incentivo da Lei Rouanet e patrocínio inicial da Telebrás.
Concebido pelo maestro e flautista Ricardo Kanji e pelo historiador Ricardo Maranhão, o programa cobre a história musical brasileira, desde José de Anchieta, que a
usava para catequizar os índios,
passando por grandes autores, como o mineiro José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita, atuante no
século 18, e o padre José Maurício,
que cultivou a música sacra de inspiração haydiana, até a consolidação da música popular.
"Procuramos contextualizar historicamente momentos de criação
da música brasileira e o ambiente
social em que viveram seus compositores", diz Ricardo Maranhão,
também responsável pelo roteiro e
coordenação geral do projeto.
A pesquisa durou dois anos e
contou com o minucioso trabalho
do musicólogo Paulo Castagna, especialista em música colonial.
"Antigamente, as partituras não
eram completas, havia as partes
orquestrais, instrumentais, dos
cantos. Cada uma separadamente.
Às vezes, esse material estava disperso. Uma parte em Ouro Preto,
outras em Mariana ou no Rio. Foi
preciso juntar todas elas", diz o
maestro Kanji. Alguns manuscritos do século 18, por exemplo, foram descobertos num mosteiro
em Mogi das Cruzes como recheio
da capa de um livro floral.
"O teor musical das obras escolhidas é muito elevado", diz Kanji.
A linguagem do programa segue
a linha dos documentários históricos, entremeados com apresentações musicais.
"Tínhamos a preocupação de
atingir um público maior, por isso
é possível, para o espectador não
habituado à música antiga, assistir
com fluência, sem perder o interesse", diz Maranhão.
O maestro Kanji compôs e dirigiu a orquestra e o coral com jovens da elite musical do Estado.
Entre eles, o violinista Cláudio
Cruz, spalla da orquestra do projeto. Kanji queria, inicialmente, ter
executado as obras com instrumentos antigos.
"Eu poderia ter importado uma
orquestra, mas esses músicos ficariam aqui por dez dias, iriam embora, e nós não teríamos nada.
Concluí que o mais importante
não é o instrumento, mas o conhecimento do estilo. Cheguei a um
resultado bastante agradável usando as técnicas barrocas e clássicas
com instrumentos modernos."
Os dois primeiros CDs da série
estão disponíveis nas lojas e suas
repercussões já podem ser notadas. A gravadora francesa K 617,
especializada em música barroca,
gostou tanto do resultado que está
editando uma compilação dos dois
primeiros discos.
Programa: História da Música Brasileira
Quando: hoje, às 19h30
Canal: TV Cultura
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