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MÚSICA ERUDITA
Maestro assume para recompor Orquestra Nacional de Brasília
Barbato traz apelo popular
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
Estrela ascendente da música
sinfônica brasileira, Silvio Barbato
deu partida no final de março à sua
carreira de maestro principal de
duas importantes orquestras do
país: a do Teatro Municipal do Rio
e a do Teatro Nacional de Brasília.
No Rio, em substituição a Mário
Tavares, Barbato assumiu um grupo coeso, homogêneo, com tradição de qualidade artística constante, e se apresenta diante de públicos habituados à música erudita.
Em Brasília, sua situação é diferente. No mês que antecedeu à sua
estréia, Barbato teve de recompor
uma estrutura em frangalhos: apenas 40 músicos atuantes, sem cadeiras e estantes em número suficiente nem em boas condições.
Há versões conflitantes sobre as
razões que levaram a essa situação.
A passagem por três anos da maestrina cubana Elena Herrera à frente do grupo foi conturbada. Ela se
desentendeu com parte da administração do ex-governador do
Distrito Federal Cristovam Buarque, recebeu acusações de privilegiar músicos cubanos inexpressivos e de rebaixar a qualidade geral
da orquestra. Herrera, 50, tem se
recusado a falar a jornalistas sobre
os problemas que enfrentou.
Barbato, 39, que já foi regente titular da orquestra entre 1989 e
1992, também prefere não falar do
passado. Ele contratou 40 músicos
novos, vindos de Curitiba, Belo
Horizonte e do exterior. Diz que
vai elevar o número para 120.
Na gestão Herrera, o tamanho
das audiências da orquestra decresceu de modo dramático a uma
média de 300 pessoas por audição.
Um dos desafios de Barbato é ampliar o universo apreciador de música, o que significa criar (em vez
de recuperar) espectadores.
O maestro começou bem. Na sua
primeira audição, na última terça,
conseguiu tirar o máximo de uma
orquestra recém-reconstruída.
Para isso, foi hábil na escolha do
programa. Selecionou peças em
geral não muito complexas, mas
que esboçaram seu projeto de formar um repertório brasileiro, contemporâneo e de apelo ao público.
A noite teve o "Hino Nacional" e
suas variações por Gottschalk,
Carlos Gomes, Cláudio Santoro
(patrono e primeiro maestro da
orquestra), Chopin e o infalível
"Bolero", de Ravel, para encerrar.
A seleção ajudou a domar o público (de 1.110 pessoas, a R$ 10 por
cabeça), que se enervara com o
atraso de 30 minutos para o início
da audição e era composto desde
crianças pequenas (surpreendentemente bem-comportadas) até
indóceis adolescentes debochados,
de um inusitado manifestante político que denunciou o "ataque imperialista à Sérvia" num dos intervalos a muitos inclementes usuários de estridentes celulares.
Estabeleceu-se ostensiva empatia entre maestro e platéia. Barbato
exibiu estilo de regência descontraído, mas vigoroso, bem-humorado, mas eficiente. A informalidade chegou ao ponto de ele ter pedido licença para enxugar o suor.
Os espectadores exigiram um
"encore". Mas o repertório da orquestra ainda é tão limitado que
eles acabaram ganhando um bis, a
"Alvorada", da ópera "O Escravo",
de Carlos Gomes, peça em que ela
havia se saído melhor na audição
(na repetição, não foi tão bem).
Barbato contou com o auxílio de
um bom pianista, o brasileiro radicado em Paris José Carlos Cocarelli, que tocou com entusiasmo e
convicção a "Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro".
O maestro ainda puxou da cartola alguns efeitos especiais, como
gelo seco saindo dos pés dos músicos e luzes de trás do palco ao final
do "Bolero", o que ressaltou o caráter cafona da obra mais conhecida de Ravel e funcionou como instrumento de ironia para os (poucos) mais exigentes da audiência e
de emoção para a maioria.
Para o futuro, ambição é o que
não falta. Ele quer concretizar um
antigo projeto que tinha com Renato Russo de montar uma ópera-rock. Também pensa numa ópera
sertaneja com Elomar. Pretende
usar contatos que fez durante seu
doutorado nos EUA para trazer a
Brasília alguns nomes do jet-set internacional da música erudita.
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