São Paulo, segunda-feira, 03 de maio de 2004

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TEATRO

Texto inédito do paulistano, "Encruzilhada" trata de ilusões e do vazio das relações no mundo contemporâneo

Yazbek reflete valores anti-humanos

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O vão entre o eu, o outro e o nós perpassa a dramaturgia do paulistano Samir Yazbek, 36.
Ecos desse oco contemporâneo se fazem ouvir em suas peças desde o final dos anos 90. "Encruzilhada" é outra que deixa a gaveta e vem à luz hoje em mais uma edição do ciclo "Leituras de Teatro", evento que a Folha realiza em seu auditório desde 1996.
Yazbek desce ao microcosmo das relações -ou falta delas. Medita sobre a impossibilidade de comunicação num mundo em que tal questão parece relegada.
Em meados do século 20, quando surgiu na Europa o dito teatro do absurdo, com Samuel Beckett e Eugène Ionesco, entre outros, a incomunicabilidade era problematizada. Agora, é assimilada como regra. "O texto procura escancarar o jogo de manipulações, ilusões e auto-enganos que se dá numa sociedade como a nossa. Não há confiança ou transparência suficientes para que se estabeleça o diálogo", diz Yazbek.
Mauro (Nelson Baskerville) e Vitor (Otávio Martins) são irmãos e sócios numa corretora de investimentos. Classe média. O primeiro é o oposto do caçula. Mauro emana alguma sensibilidade, pinta seus quadros. Vitor é pragmático, desconfia de todos que o cercam e canaliza sua vida para o trabalho, ou seja: jogar e lucrar na Bolsa de Valores.
Entre eles, há a mãe, Edith (Denise del Vecchio), viúva que dispara em busca do tempo perdido, mas chafurda no uísque, nos jogos de azar e na solidão.
E há a secretária da empresa, Telma (Vany Alves), a "estranha no ninho" que abandonou a carreira de psicóloga e vai provocar em todos, inclusive nela própria, uma reflexão sobre os rumos que cada um está dando à sua vida.
Para Yazbek, em meio à alienação dos tempos e à alta cotação de valores anti-humanos por natureza, "Encruzilhada" é a metáfora da bifurcação de caminhos. "De certa forma, já passamos o entroncamento e fomos em direção à barbárie. Mas sempre restará um resquício de consciência que pode transformar tudo."
A leitura começa às 20h, no auditório da Folha (al. Barão de Limeira, 425, 9º andar, Campos Elíseos, SP). A entrada é franca. Interessados devem fazer reservas, das 14h às 18h, pelo tel. 0/xx/11/ 3224-3473, ou pelo e-mail eventofolha@folhasp.com.br.
A obra de Yazbek será tema do projeto Segundas em Cena, no Sesc Pinheiros (tel. 0/xx/11/3815-3999). Haverá leitura encenada de "O Fingidor" (10/5,R$ 10), encenação de "A Terra Prometida" (17/5) e leitura dramática de "O Regulamento" (24/5), sempre às 21h. Em 31/5, às 20h, "A Entrevista" será lida no teatro Centro da Terra (tel. 0/xx/11/3675-1595).


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