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TEATRO
Texto inédito do paulistano, "Encruzilhada" trata de ilusões e do vazio das relações no mundo contemporâneo
Yazbek reflete valores anti-humanos
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O vão entre o eu, o outro e o nós
perpassa a dramaturgia do paulistano Samir Yazbek, 36.
Ecos desse oco contemporâneo
se fazem ouvir em suas peças desde o final dos anos 90. "Encruzilhada" é outra que deixa a gaveta e
vem à luz hoje em mais uma edição do ciclo "Leituras de Teatro",
evento que a Folha realiza em seu
auditório desde 1996.
Yazbek desce ao microcosmo
das relações -ou falta delas. Medita sobre a impossibilidade de
comunicação num mundo em
que tal questão parece relegada.
Em meados do século 20, quando surgiu na Europa o dito teatro
do absurdo, com Samuel Beckett
e Eugène Ionesco, entre outros, a
incomunicabilidade era problematizada. Agora, é assimilada como regra. "O texto procura escancarar o jogo de manipulações, ilusões e auto-enganos que se dá numa sociedade como a nossa. Não
há confiança ou transparência suficientes para que se estabeleça o
diálogo", diz Yazbek.
Mauro (Nelson Baskerville) e
Vitor (Otávio Martins) são irmãos e sócios numa corretora de
investimentos. Classe média. O
primeiro é o oposto do caçula.
Mauro emana alguma sensibilidade, pinta seus quadros. Vitor é
pragmático, desconfia de todos
que o cercam e canaliza sua vida
para o trabalho, ou seja: jogar e lucrar na Bolsa de Valores.
Entre eles, há a mãe, Edith (Denise del Vecchio), viúva que dispara em busca do tempo perdido,
mas chafurda no uísque, nos jogos de azar e na solidão.
E há a secretária da empresa,
Telma (Vany Alves), a "estranha
no ninho" que abandonou a carreira de psicóloga e vai provocar
em todos, inclusive nela própria,
uma reflexão sobre os rumos que
cada um está dando à sua vida.
Para Yazbek, em meio à alienação dos tempos e à alta cotação de
valores anti-humanos por natureza, "Encruzilhada" é a metáfora
da bifurcação de caminhos. "De
certa forma, já passamos o entroncamento e fomos em direção
à barbárie. Mas sempre restará
um resquício de consciência que
pode transformar tudo."
A leitura começa às 20h, no auditório da Folha (al. Barão de Limeira, 425, 9º andar, Campos Elíseos, SP). A entrada é franca. Interessados devem fazer reservas,
das 14h às 18h, pelo tel. 0/xx/11/
3224-3473, ou pelo e-mail eventofolha@folhasp.com.br.
A obra de Yazbek será tema do
projeto Segundas em Cena, no
Sesc Pinheiros (tel. 0/xx/11/3815-3999). Haverá leitura encenada de
"O Fingidor" (10/5,R$ 10), encenação de "A Terra Prometida"
(17/5) e leitura dramática de "O
Regulamento" (24/5), sempre às
21h. Em 31/5, às 20h, "A Entrevista" será lida no teatro Centro da
Terra (tel. 0/xx/11/3675-1595).
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