São Paulo, segunda-feira, 03 de maio de 2010

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OPINIÃO

Adversários de Matarazzo colam rótulo de higienista

Novo secretário da Cultura parece ter saudade de uma cidade que não existe mais, com um centro sem catadores, moradores de rua, camelôs e inferninhos

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Num debate sobre políticas públicas para a região central de São Paulo, em 2006, catadores de sucata hostilizavam tanto Andrea Matarazzo que chegaram a gritar: "Pega! Bate!". A intenção era agredir fisicamente o então subprefeito da região da Sé na administração de José Serra. Eu, que mediava o debate, tive de falar alto com os catadores para demovê-los da ideia: "Debater pode, bater, não!".
O episódio ilustra o grau de animosidade que as políticas imaginadas por ele para a região central geraram em certos segmentos. Matarazzo parecia ter saudades de um centro sem catadores, sem moradores de rua, sem camelôs, sem inferninhos, sem bares mais heterodoxos, com uma Luz que lembrasse a exuberância dos anos 50. Ou seja, de uma cidade que não existe mais.
Seus adversários, um espectro que ia do PT aos padres católicos, conseguiram colar nele um rótulo de teor levemente erudito e altamente ofensivo: higienista. Era uma referência às políticas do século 19 e início do século 20 que removeram cortiços e prostíbulos do centro das cidades europeias.
A rampa para evitar que os sem teto dormissem no túnel no final da avenida Paulista era vista por seus adversários como a realização máxima dessa política. Virou a "rampa antimendigo" -caráter que ele negava com veemência. Dizia também que seus adversários nunca conseguiram provar que havia sido higienista.
Matarazzo tentou encarnar a versão paulistana de Rudolph Giuliani, prefeito de Nova York entre 1994 e 2002. Buscou implantar uma versão local do tolerância zero, que não deu certo, entre outras razões, porque São Paulo não é Nova York.
A imagem que ele gostava de cultivar era a do xerife. Fechava bares sem alvará como se tivesse realizado um grande feito. O eleitorado mais conservador o aplaudia como se tivesse encontrado nele um Jânio Quadros sem as manias.
O resultado dessas políticas para a cidade foi insignificante. Dos projetos que previa para o centro, um dos poucos implantados foi a abertura dos calçadões para veículos, com resultados nulos.
A Nova Luz, mais um slogan do que um projeto urbano para uma área degradada, não saiu do papel. O projeto de demolir um quarteirão -e não colocar nada no lugar- degradou ainda mais a paisagem da região.
Quando deixou a prefeitura, em setembro do ano passado, a varrição das ruas e a coleta de lixo piorou muito. Matarazzo dizia que na época em que esteve no poder isso não aconteceu. Manter a cidade limpa talvez tenha sido seu grande feito.


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