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OPINIÃO
Adversários de Matarazzo colam rótulo de higienista
Novo secretário da Cultura parece ter saudade de uma cidade que não existe mais, com um centro sem catadores, moradores de rua, camelôs e inferninhos
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Num debate sobre políticas
públicas para a região central
de São Paulo, em 2006, catadores de sucata hostilizavam tanto Andrea Matarazzo que chegaram a gritar: "Pega! Bate!". A
intenção era agredir fisicamente o então subprefeito da região
da Sé na administração de José
Serra. Eu, que mediava o debate, tive de falar alto com os catadores para demovê-los da ideia:
"Debater pode, bater, não!".
O episódio ilustra o grau de
animosidade que as políticas
imaginadas por ele para a região central geraram em certos
segmentos. Matarazzo parecia
ter saudades de um centro sem
catadores, sem moradores de
rua, sem camelôs, sem inferninhos, sem bares mais heterodoxos, com uma Luz que lembrasse a exuberância dos anos
50. Ou seja, de uma cidade que
não existe mais.
Seus adversários, um espectro que ia do PT aos padres católicos, conseguiram colar nele
um rótulo de teor levemente
erudito e altamente ofensivo:
higienista. Era uma referência
às políticas do século 19 e início
do século 20 que removeram
cortiços e prostíbulos do centro
das cidades europeias.
A rampa para evitar que os
sem teto dormissem no túnel
no final da avenida Paulista era
vista por seus adversários como
a realização máxima dessa política. Virou a "rampa antimendigo" -caráter que ele negava
com veemência. Dizia também
que seus adversários nunca
conseguiram provar que havia
sido higienista.
Matarazzo tentou encarnar a
versão paulistana de Rudolph
Giuliani, prefeito de Nova York
entre 1994 e 2002. Buscou implantar uma versão local do tolerância zero, que não deu certo, entre outras razões, porque
São Paulo não é Nova York.
A imagem que ele gostava de
cultivar era a do xerife. Fechava
bares sem alvará como se tivesse realizado um grande feito. O
eleitorado mais conservador o
aplaudia como se tivesse encontrado nele um Jânio Quadros sem as manias.
O resultado dessas políticas
para a cidade foi insignificante.
Dos projetos que previa para o
centro, um dos poucos implantados foi a abertura dos calçadões para veículos, com resultados nulos.
A Nova Luz, mais um slogan
do que um projeto urbano para
uma área degradada, não saiu
do papel. O projeto de demolir
um quarteirão -e não colocar
nada no lugar- degradou ainda
mais a paisagem da região.
Quando deixou a prefeitura,
em setembro do ano passado, a
varrição das ruas e a coleta de
lixo piorou muito. Matarazzo
dizia que na época em que esteve no poder isso não aconteceu.
Manter a cidade limpa talvez
tenha sido seu grande feito.
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