São Paulo, terça-feira, 03 de maio de 2011

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Evento faz de Manaus capital da ópera

Exibição de "O Diálogo das Carmelitas" consolida Festival Amazonas como maior evento nacional de música erudita

Obra de Francis Poulenc trata do martírio das carmelitas durante a Revolução Francesa e foge da previsibilidade

ENVIADO ESPECIAL A MANAUS

Com o Municipal fechado, o melhor teatro de ópera de São Paulo é o aeroporto.
A montagem de "O Diálogo das Carmelitas", encenada anteontem no 15º Festival Amazonas de Ópera, em Manaus, confirma o evento como referência nacional.
Composta em 1957 pelo francês Francis Poulenc (1899-1963) com base em um roteiro cinematográfico do parisiense George Bernanos (1888-1948), a obra trata do martírio de freiras carmelitas na Revolução Francesa.
Para um texto intelectualizado -que, fugindo dos clichês operísticos, lida com questões como fé, sacrifício e medo da morte-, Poulenc escreveu música tonal, relativamente conservadora e de grande beleza.
Sem árias, o discurso musical de Poulenc é um recitativo fluente e harmonicamente sofisticado. Soa como herdeiro direto de "Pelléas et Mélisande", a ópera que Claude Debussy (1862-1918) estreou em 1902, temperado com encantadores corais sacros para vozes femininas.
Pouco conhecido por aqui, o título se revelou uma escolha inteligente, sensível e, portanto, fora do padrão de previsibilidade que marca as casas de ópera brasileiras. Para uma ópera sofisticada, uma realização madura. Esqueça o "kitsch" pueril e indigente que predomina no Theatro São Pedro.
O que se viu em Manaus, sob direção de William Pereira, foi uma encenação despojada e fortemente consistente do ponto de vista visual, com um refinado jogo de espaços e uso especialmente inteligente da luz.
Equilibrado, o elenco teve como ponto forte duas cantoras francesas. Na parte de Blanche, a protagonista, a soprano Michelle Cannicionni mostrou solidez vocal, entrega cênica e inteligência dramática. Traduziu, em música e gesto, os conflitos de sua multifacetada personagem sem perder a intensidade ao longo de um papel extenso e exigente.
Sua compatriota, a também soprano Isabelle Sabrié, que há três anos trocou a Paris por Manaus, foi uma Madame Lidoine que uniu frescor vocal e maturidade cênica, moldando suas frases com uma sabedoria e um conhecimento do estilo que não excluíram a intensidade interpretativa.
Entre as vozes brasileiras, a mezzosoprano Denise de Freitas, como Madame Marie, conquistou por uma projeção vocal espantosa, cuidado no fraseado e trabalho meticuloso do texto francês. A soprano Gabriella Pace trouxe seu habitual aporte de energia à Irmã Constance.
Dirigida por Marcelo de Jesus, a Amazonas Filarmônica teve oscilações na precisão e qualidade precária nos solos. O principal, porém, estava lá: cores e atmosferas contrastantes, clímaxes bem construídos e cuidado para ajudar os cantores. (IRINEU FRANCO PERPETUO)


O jornalista IRINEU FRANCO PERPETUO viajou a convite do Festival Amazonas de Ópera.

O DIÁLOGO DAS CARMELITAS

AVALIAÇÃO bom

FESTIVAL AMAZONAS DE ÓPERA

QUANDO até 29/5
ONDE Teatro Amazonas (lg. de São Sebastião, s/nº, Manaus-AM, tel.0/xx/92/3633-2850)
QUANTO de R$ 5 a R$ 80
CLASSIFICAÇÃO livre


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