São Paulo, domingo, 03 de junho de 2007

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Mônica Bergamo

@- bergamo@folhasp.com.br

Fotos Jefferson Coppola/Folha Imagem
Turista colombiano faz pose em uma das cadeiras de 2,5 m de altura, dos designers Kiko Sobrino e Alessandro Jordão, na Casa Cor


era uma casa muito engraçada...

O jardim é de lavandas francesas, geneticamente modificadas em laboratório para se adaptarem ao clima do Brasil. A entrada tem uma instalação com cadeiras de estofado de seda e tapete de oncinha, uma parede de 4.600 garrafas de água mineral e um bar com pichações em inglês.

 

O cenário é a entrada de um condomínio de luxo, tema da Casa Cor deste ano. A coluna visitou o ambiente e pediu uma consultoria especial: a do arquiteto Aurelio Martinez Flores, 75 -que já desenhou, entre centenas de projetos, a casa do banqueiro Walter Moreira Salles (e o instituto com seu nome) e, mais recentemente, os restaurantes Gero, no Rio e em SP.
 

A primeira impressão dele: "Isso é para ser uma casa de idéias. Dá uma olhada em volta [aponta mulheres de casaco de pele]: são todas amigas que estão aqui pra ver as idéias e copiar em casa depois. Se as idéias são boas ou não..." Elas, do outro lado, conversam: "Olha o Niemeyer!", diz uma delas, apontando para Flores.
 

O arquiteto começa a excursão pelo hall de entrada do condomínio. Criado por Maurício Queiroz, tem uma grande mesa em acrílico com desenhos iluminados no tampo.
 

"Pra quê serve esta mesa?", pergunta o arquiteto a uma das recepcionistas. Ela explica: "Para o pessoal do condomínio sentar, conversar..." Ele, rindo: "Ah, você não acha impossível que vizinhos venham aqui para sentar e conversar? Isso é uma cópia malfeita do [Philippe] Starck [designer francês], que mistura materiais e idéias para chocar".
 

Ele continua, referindo-se a outros cenários: "Isso [misturar materiais para chocar] se faz presente na "moda" dos interiores, infelizmente. Na maioria das vezes, mal usado. Esse estilo é melhor em imóveis comerciais e em ambientes corporativos, hotéis, e não em casas. É bom lembrar que o evento se chama Casa Cor".
 

No spa de Ana Maria Vieira Santos, uma cama de massagem está à beira da piscina. "Gosto. É limpo e agradável", avalia Flores, que, em seguida, vai à lavanderia, criada por Luiz Navarro. Lá, uma cadeira Barcelona (modelo em aço e couro, de R$ 3.500) está ao lado de máquinas de lavar. Um lustre de cristais Swarovski (de R$ 30 mil) paira sobre três tanques.
 

"Cadeira Barcelona é o que tem de mais chique. É para um hall de entrada elegante, não para uma lavanderia. O resto [olha para o lustre e ri] é poluído demais." Livros de arte estão sob o ferro de passar. "Que eu saiba, lavanderia é para empregada. Não para patroa, né?"
 

Na galeria de arte, com paredes cobertas por tábuas, projetada pelo escritório Barbara & Purchio, ele reclama: "Parece mais showroom de madeira, não de quadros. Galeria de arte é parede branca, lisa e pronto".
 

Em cima da galeria, estão montados sete estúdios e um apartamento de cobertura. Entre eles, o de Leo Shehtman, com 55 mil cristais Swarovski -bordados nas toalhas e lençóis, incrustrados no corrimão e na válvula de descarga do banheiro. "É brilho aqui, é brilho ali, brilho lá! Brilho demais, não vale nem comentar", diz o arquiteto. Ao lado, no ambiente de Ruy Ohtake, não há divisória entre cozinha e sala. Como a culinária brasileira é muito engordurada, o espaço seria um problema nas cozinhas reais. Mas Flores elogia: "Ruy é meu amigo íntimo. Sempre usa formas e cores perfeitas".
 

O quarto completamente branco -paredes, quadros, livros e até garrafas -, de Roberto Migotto, agrada. "Limpíssimo. Você tem a sensação de amplidão. Muito bom exemplo de que menos é mais. Não é aquela coisa carregada dos outros ambientes."
 

Já a cozinha de Marcelo Rosembaum, não. Lá, uma mesa com mais de 20 lugares é decorada com copos em forma de caveira. Um peru feito em crochê e um pavão empalhado compõem a decoração. "Ele quer chocar, tenta quebrar certos cânones do que é uma cozinha. Coloca sofás brancos, uma mesa imensa. Quem é que tem uma cozinha dessas? "
 

No bar do condomínio, uma mesa vermelha de sinuca divide o espaço com paredes "pichadas" -pelo arquiteto Maurício Queiroz. O texto: "I can resist everything except temptation [Eu posso resistir a tudo, exceto a tentações]", do escritor irlandês Oscar Wilde. "Não entendi para que serve o grafite. Pichação não é isso. Eu pelo menos nunca vi pichação literária. Você já?"
 

A mostra tem ainda uma instalação do arquiteto e decorador Jorge Elias -duas poltronas forradas com seda, tapete de estampa de oncinha e quadros com molduras de conchas marinhas. E Flores não comenta. "É meu amigo e tem coisas melhores que isso." É avisado de que o espaço de Jorge Elias é o único em que não se pode entrar na Casa Cor. O arquiteto diz, rindo: "Graças a Deus".

AUDREY FURLANETO (Reportagem)


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