São Paulo, domingo, 03 de junho de 2007

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TERCEIRO LUGAR

Lewis faz rir com suas caretas e trejeitos

ROSANA HERMANN
ESPECIAL PARA A FOLHA

Se você gosta de Jerry Lewis ou se você tem algum interesse em humor (e uma boa banda larga), não deixe de ver a entrevista desse genial comediante com James Lipton, no "Inside Actor's Studio". A versão do programa que vi no YouTube está fatiada em seis finos pedaços com legendas em italiano, uma mão na roda caso você precise de ajuda.
A entrevista cobre vida e obra de Lewis, mostra cenas antológicas de sua longa e bem-sucedida carreira e revela com precisão a matéria-prima de que é feito seu incomparável talento. Assisti à entrevista com atenção, interesse e admiração e, em várias ocasiões, me vi chorando. Não fui a única. Na parte final, é possível ver lágrimas já roladas registradas em vídeo.
Mas vamos passar o lencinho. O assunto é humor.
O humor pode ter muitas técnicas e vertentes, mas só existe um tipo de humor: o engraçado. O que faz rir. E isso Jerry faz como ninguém, desde o início de sua carreira. Não é à toa que um de seus maiores sucessos na TV americana dos anos 50 tenha sido o "The Colgate Comedy Hour", patrocinado pelo famoso dentifrício. Basta ver para mostrar os dentes.
Jerry é fisicamente engraçado. Em incontáveis seqüências com o seu melhor parceiro de todos os tempos, Dean Martin, Jerry é capaz de arrancar gargalhadas apenas com seus movimentos, trejeitos e caretas. Seu corpo é uma máquina a serviço de seu cérebro cômico.
O próprio Jerry revela a Lipton que, embora seja clinicamente possível aprender a ser humorista, o talento para o humor já nasce nos ossos.
O humorista naturalmente engraçado, dotado da chamada veia cômica, sente uma necessidade vital de fazer os outros rirem. Em suas palavras, "precisa da gargalhada do outro como o pulmão precisa de ar".
Mas Jerry não é só um comediante. É dançarino, produtor, diretor, roteirista, coreógrafo, filósofo. Ou, numa palavra desgastada na nossa língua, um artista. Esse artista, que improvisou seqüências incríveis na história do cinema, ensina que a situação mais básica para fazer graça é a do "homem com problemas". Todos gostam de rir de alguém em má situação e acompanhar seus esforços para tentar sair do problema.
Há 81 anos esse vigoroso menino, filho de judeus ortodoxos, nos faz rir. Mas, quando lembramos que ele criou a Associação da Distrofia Muscular, que promove o Teleton para arrecadar fundos para pesquisas contra a doença que ele próprio contraiu e superou, dá até vontade de chorar. E aplaudir.


ROSANA HERMANN é redatora do programa "Pânico" e blogueira (queridoleitor.zip.net)


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