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Cantor escreve coletânea de causos
Cantor afirma que passa as madrugadas acordado tentando contar histórias da própria vida, que terminam em piadas
Artista deu adeus ao futebol e lamenta envelhecer, mas diz que, diante de uma menina de 18 anos, teria
18 anos também
DO ENVIADO AO RIO
Erasmo Carlos vive à noite.
Não vai para a cama antes que o
relógio da sala bata às 4h. No
andar térreo de sua casa na
Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, mantém um aquário de
água salgada, um bar sempre
abastecido, um bom equipamento de som e um sofá.
Nas paredes, fotos originais
emolduradas das capas de alguns de seus álbuns. E muitos
discos de ouro, aqueles que,
tempos atrás, equivaliam a 100
mil LPs vendidos, principalmente por suas participações
como compositor nos trabalhos gravados por Roberto.
No silêncio das madrugadas,
escreve seu primeiro livro. Não
considera uma biografia, mas
uma coletânea de causos.
Histórias que envolvem sua
família e amigos próximos. Não
todos, diz, apenas os mais engraçados. Roberto, Wanderléa,
Milton Nascimento, Caetano
Veloso.
"O mais importante não sou
eu nem qualquer outro personagem, mas a piada do final.
Todos os contos terminam com
uma piada", diz. "Enquanto ela
não chega, vou contando coisas
da minha vida."
Comparando o ofício de
compositor ao de escritor, vê
vantagens no segundo. A maior
delas é poder falar todos os palavrões que usa no dia a dia e,
por questões estéticas, nunca
coloca nos versos das canções.
"Na cama com uma mulher
você xinga e é xingado. Essa
realidade não pode ser transportada para a música", diz o
cantor. "Quem faz versos encontra barreiras. Fico eternamente no limite entre a baixaria e a poesia."
Erasmo está solteiro. Adora
futebol, mas problemas de coluna deram fim às peladas do
fim de semana. Reclama que,
com o passar dos anos, seu corpo o vem proibindo de realizar
algumas de suas vontades.
"Na parte interna, sou um
menino com a idade que eu quiser. Tenho todas", diz. "Se chegar uma menina de 18 anos
aqui, eu tenho 18 anos também.
Mas, por fora..." Segundo ele,
essa é a parte mais difícil de
envelhecer.
Mas nada em sua voz denota
tristeza. Acendendo um cigarro
após o outro, ele parece gostar
de dar entrevistas. "Dou umas
respostas que você tem que
prestar atenção para ver se estou falando certo. Porque às vezes eu dou umas viajadas..."
(MARCUS PRETO)
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