São Paulo, sexta-feira, 03 de junho de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Bailarinos e atores se misturam em "Otro"

Na peça, o diretor Enrique Diaz tenta traduzir situações cotidianas sobre "o outro" por meio dos corpos em cena

Espetáculo, que chega a SP após temporada carioca e turnê no exterior, se inspira em Clarice Lispector

GABRIELA MELLÃO
DE SÃO PAULO

Após desconstruir clássicos como "Hamlet", de Shakespeare e "A Gaivota", de Tchékhov, impulsionando o teatro experimental do país a trafegar por novos caminhos, Enrique Diaz dá prosseguimento à sua pesquisa.
"Otro", espetáculo que estreia hoje em São Paulo após fazer curta temporada carioca e passar quase um ano em turnê internacional, foi "um salto no escuro", segundo o encenador, que já venceu com quatro prêmios Shell de melhor direção -"Melodrama" (95/ 96), "Ensaio.Hamlet" (2004) e "In on It" (2009).
Diaz divide o comando da cena com Cristina Moura. Ambos também atuam. Mais uma vez ele aposta nas narrativas fragmentais.
Entretanto, dá ares de abstração à obra. "Como Cristina é mais coreógrafa e bailarina do que diretora de teatro, o trabalho acaba sendo o resultado desta fricção", explica.
Intensifica a expressividade física, fazendo soar sua dramaturgia por meio da movimentação dos atores (muitos deles bailarinos).
"Os corpos dos bailarinos parecem fundar um lugar que oscila entre a atuação, o movimento, a memória e o não dito", fala ele.
Criada de forma conjunta entre os artistas que compõe o Coletivo Improviso, a obra curiosamente partiu de pesquisas concretas.
Debruçaram-se sobre "o outro", observando o homem em diversas situações urbanas do Rio de Janeiro. Para Diaz, o objetivo era pensar no próximo de maneira aberta e curiosa.
"O espetáculo é muito mais um depoimento de experiências, restos de um grande debate prático sobre as questões da alteridade no contexto da nossa cidade, do que uma história sobre alguma coisa", opina.
"Otro" procura questionar o quanto a humanidade é capaz de assimilar o diferente. Para tanto, apropria-se do tema como conteúdo e forma. Ao misturar narrativas entrecortadas com distintas linguagens artísticas, como dança, vídeo e música (tocada ao vivo), dedica-se a abrir também a percepção sensorial do espectador.
As narrativas que apresentam de modo aparentemente casual o conceito de alteridade são interligadas. "Ela agora sou eu. E o outro vai ser ele", diz a atriz Denise Stutz no início do espetáculo. O eu é sobreposto ao outro, se metamorfoseando em múltiplos personagens, os quais, em alguns casos, se confundem com os próprios atores.
A figura mentora do processo criativo é Clarice Lispector. Diaz busca a intimidade e o estranhamento que suas criações despertam, quase sempre em meio a situações do cotidiano.
"A Clarice tem um olhar para a superfície das coisas que atinge a profundidade. Com isso ela racha a lógica."

OTRO

QUANDO sex. e sáb., às 21h e dom., às 19h; até 26/6
ONDE Sesc Pompeia (r. Clélia, 93, tel.0/xx/11/3871-7700)
QUANTO de R$ 8 a R$ 32
CLASSIFICAÇÃO 12 anos


Texto Anterior: Crítica/Instrumental: Discípulo de Hermeto, André Marques grava "Labirinto" com música universal
Próximo Texto: Saiba mais: Artistas têm formações variadas
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.