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CINEMA
Lei do Audiovisual vai ao pelourinho em SC
INÁCIO ARAUJO
enviado especial a Florianópolis
O 3º Seminário de Cinema e Televisão do Mercosul, em Florianópolis, começou na segunda-feira
com os participantes colocando
em questão a Lei do Audiovisual e,
mais amplamente, a ausência de
política governamental para o cinema e o audiovisual.
Luís Gleiser, diretor da Globofilme, foi logo às contas. Se um filme
custa R$ 2,2 milhões e gasta mais
R$ 600 mil no lançamento, precisará fazer 1,9 milhão de espectadores para reembolsar seu custo.
"Ninguém conseguiu chegar
perto disso nos anos 90", diz ele. O
filme que mais se aproximou desse
alvo foi "Simão - O Fantasma Trapalhão", com 1,6 milhão. Como R$
2,2 milhões é um número conservador (a média dos projetos apresentados ao Programa de Integração Cinema-TV -PIC- Cultura
é de R$ 3 milhões, segundo Ivan
Isola, diretor do programa), a situação complica-se ainda mais.
Para ele, a única maneira de tornar os filmes nacionais rentáveis
consiste em fomentar a exibição e
a distribuição, comprometendo
esses setores com o cinema produzido no país.
Vera Zaverusha, ex-secretária
para o Desenvolvimento do Audiovisual do Minc, sustenta que,
com o sistema de "mecenato empresarial" criado para substituir a
Embrafilme (a Lei do Audiovisual), o Estado abriu mão de qualquer controle do mercado. Como
no seu entender os investidores
querem ter vantagens além das
concedidas pela lei (leia-se: querem ganhar comissões sobre os valores aplicados), o sistema atual
"sai mais caro para o governo do
que o subsídio dado até 1990 à Embrafilme".
Zaverucha e Gleiser concordam
no que diz respeito ao papel das salas multiplex. Como pertencem
majoritariamente a grandes companhias dos EUA, sua implantação
no Brasil geraria dois problemas:
a) o surgimento de um mercado
tomado por salas aptas, tecnologicamente, a acolher os filmes americanos, mas não outros tipos de
produtos; b) se antes as companhias remetiam à matriz lucros referentes aos filmes estrangeiros
que exibiam, com as salas dominadas por companhias estrangeiras
passam a remeter lucros também
sobre a exibição dos filmes.
Ivan Isola, diretor do PIC, criticou ainda os orçamentos inflacionados da maior parte dos filmes
que procuram co-produção com a
TV Cultura, orçados, em média,
em R$ 3 milhões. Para Isola, essa
média poderia ser reduzida a R$
1,8 milhão sem prejuízo para o resultado final dos filmes.
Se o recado é dirigido diretamente aos produtores, deixa implícito
uma crítica à atual Lei do Audiovisual, que não impõe limites à captação de recursos.
Com isso tudo, espera-se que o
coordenador da Secretaria para o
Desenvolvimento Audiovisual do
Minc, José Francisco Pereira do
Vale, venha munido com respostas
adequadas a Florianópolis, no dia
4. Até agora, a única unanimidade
entre os palestrantes está na constatação de que falta muito, muito
mesmo, para o Minc ter algo que se
pareça a uma política para o setor.
O colunista
José Simão está em férias
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