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CD faz autocitação precoce
da Reportagem Local
Fernanda Abreu ameaça em
"Raio X" repetir o descaminho
de Marisa Monte de reler excessivamente sua própria obra, estacionada em estágio ainda precoce.
Saudável a estrelas de décadas de
carreira, a prática carece de justificativa convincente para lá das metas de mercado quando se trata de
artistas de carreira pouco volumosa como Fernanda e Marisa.
Fernanda, em especial, parece
acreditar na descartabilidade da
própria obra, julgando serem necessárias releituras de clássicos
noventistas que ela mesma forjou
(já a partir, diga-se, da recombinação, da colagem, do sampler).
O que há é que tais clássicos modernos não eram descartáveis
-eram, antes, o próprio rosto dos
90, seu documento impecável.
Assim, nem Chico Science consegue superar a riqueza da primeira "Rio 40 Graus". O que dizer,
então, de Carlinhos Brown enfeitando a antológica versão de Fernanda para "Jorge de Capadócia", de Jorge Ben? É a história
atropelando a história.
Isso posto, é forçoso notar que
"Raio X" oferece um painel poderoso de produção de estúdio.
Tudo é feito de luxo, com versões
bombásticas -ainda que impregnadas de nostalgia dos 90 (oh,
tempo veloz)- de "Speed Racer", "A Noite" ou "Você pra
Mim" (acrescida de propício sampler de "Take a Walk on the Wild
Side", de Lou Reed).
E há, é verdade, as faixas inéditas, em que Fernanda ressalta a intenção quase obsessiva de se provar brasileira -como fez no bairrista "Da Lata" (95), em que cometia a imprudência de "descobrir" que "também existem tesouros na favela".
Nesse veio, há "Jack Soul Brasileiro", tributo em forma de trocadilho infame a Jackson do Pandeiro feito por Lenine; e "Aquarela
Brasileira", de Silas de Oliveira.
"Raio X" não defende sua tese.
Hesitante, não prova a necessidade da autocitação, da memorabilia
apressada (ah, por que a velha Blitz
foi expurgada?). É o primeiro disco de Fernanda que prescinde de
conceito, e isso não é bom sinal.
Não deve haver razão para alarme, entretanto. Tropeços à parte, a
artista, das mais originais dos 90,
ainda se exibe intacta.
Se duvida, ouça a versão "goldfinger" para "Kátia Flávia".
Clássico absoluto dos 80, torna-se
de imediato clássico absoluto dos
90 e coloca o fã do pop dos 90 à
espera do próximo passo de Fernanda. Este não valeu.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Disco: Raio X
Artista: Fernanda Abreu
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 18, em média
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