São Paulo, quinta, 3 de julho de 1997.



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CD faz autocitação precoce

da Reportagem Local

Fernanda Abreu ameaça em "Raio X" repetir o descaminho de Marisa Monte de reler excessivamente sua própria obra, estacionada em estágio ainda precoce.
Saudável a estrelas de décadas de carreira, a prática carece de justificativa convincente para lá das metas de mercado quando se trata de artistas de carreira pouco volumosa como Fernanda e Marisa.
Fernanda, em especial, parece acreditar na descartabilidade da própria obra, julgando serem necessárias releituras de clássicos noventistas que ela mesma forjou (já a partir, diga-se, da recombinação, da colagem, do sampler).
O que há é que tais clássicos modernos não eram descartáveis -eram, antes, o próprio rosto dos 90, seu documento impecável.
Assim, nem Chico Science consegue superar a riqueza da primeira "Rio 40 Graus". O que dizer, então, de Carlinhos Brown enfeitando a antológica versão de Fernanda para "Jorge de Capadócia", de Jorge Ben? É a história atropelando a história.
Isso posto, é forçoso notar que "Raio X" oferece um painel poderoso de produção de estúdio.
Tudo é feito de luxo, com versões bombásticas -ainda que impregnadas de nostalgia dos 90 (oh, tempo veloz)- de "Speed Racer", "A Noite" ou "Você pra Mim" (acrescida de propício sampler de "Take a Walk on the Wild Side", de Lou Reed).
E há, é verdade, as faixas inéditas, em que Fernanda ressalta a intenção quase obsessiva de se provar brasileira -como fez no bairrista "Da Lata" (95), em que cometia a imprudência de "descobrir" que "também existem tesouros na favela".
Nesse veio, há "Jack Soul Brasileiro", tributo em forma de trocadilho infame a Jackson do Pandeiro feito por Lenine; e "Aquarela Brasileira", de Silas de Oliveira.
"Raio X" não defende sua tese. Hesitante, não prova a necessidade da autocitação, da memorabilia apressada (ah, por que a velha Blitz foi expurgada?). É o primeiro disco de Fernanda que prescinde de conceito, e isso não é bom sinal.
Não deve haver razão para alarme, entretanto. Tropeços à parte, a artista, das mais originais dos 90, ainda se exibe intacta.
Se duvida, ouça a versão "goldfinger" para "Kátia Flávia". Clássico absoluto dos 80, torna-se de imediato clássico absoluto dos 90 e coloca o fã do pop dos 90 à espera do próximo passo de Fernanda. Este não valeu.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


Disco: Raio X Artista: Fernanda Abreu Lançamento: EMI Quanto: R$ 18, em média



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