São Paulo, terça-feira, 03 de julho de 2001
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Filmes para ler
Roteiro inédito de Mário Peixoto e Saulo Pereira e o último trabalho de Joaquim Pedro de Andrade ganham edição em livro
SILVANA ARANTES DA REPORTAGEM LOCAL Roteiros de cinema irrealizados são como o samba -uma "tristeza que balança". À falta de chegar às telas, dois exemplares dessa espécie -"Senzala & Cia", de Joaquim Pedro de Andrade, e "Outono/O Jardim Petrificado", de Mário Peixoto e Saulo Pereira de Mello, alcançam lugar definitivo nas estantes. "Senzala & Cia" será lançado no próximo dia 10, no Rio, reunindo o roteiro de Joaquim Pedro (adaptado do clássico "Casa-Grande & Senzala", de Gilberto Freyre) e extenso material fotográfico e documental sobre a preparação do filme, que chegou a ter equipe e elenco definidos e objetos de cena confeccionados. A organização do volume pertence a Ana Maria Galano, viúva do cineasta e sua co-roteirista. São dela as anotações que compõem o "Diário de Locação e Pesquisa", incluído no livro, sobre a viagem pelo Nordeste brasileiro que subsidiou todo o trabalho. Em uma pequena expedição -a partir do Rio, de avião até Salvador, de saveiro pelo Recôncavo Baiano e de caminhonete até o Recife, seguindo o cenário do livro-, em agosto de 1986, o cineasta e Galano tiveram a companhia do produtor Marcelo França, de Lula Buarque, como coordenador de pesquisa, e dos historiadores Dirceu Lindoso e Joel Rufino. "Joaquim me pediu que fizesse o diário para guardar o que suscitava esse nosso primeiro olhar, associado ao relato feito pelos historiadores", diz Galano. O cineasta decidiu concentrar o filme nos primeiros 120 anos de história do Brasil, a partir do Descobrimento. Interessava-o o intervalo que compreendia as colonizações portuguesa e holandesa. Roteiro concluído, Joaquim Pedro submeteu-o à apreciação do urbanista Lúcio Costa, especialista na história do período. A carta em que o urbanista avalia o roteiro, uma entrevista de Joaquim Pedro a Edgard Telles Ribeiro e fotos do trabalho de pré-produção de "Casa Grande, Senzala & Cia" (que seria o título do filme) estão no livro. Dina Sfat, Grande Otelo, Fernanda Torres, Ítala Nandi e Carlos Alberto Ricelli haviam confirmado presença no elenco. Tom Jobim, Gilberto Gil e Chico Buarque aceitaram o convite para compor a trilha. A produção do filme estava orçada em US$ 3 milhões, "algo que parecia escandaloso para a época", diz Galano. Joaquim Pedro empenhou-se em viabilizá-la, buscando parceria com fundações e emissoras de TV na França, na Espanha e em Portugal, durante viagem realizada em 1987. O giro pela Europa fez o cineasta encontrar uma razão a mais para querer realizar "Casa Grande, Senzala & Cia": "O que acontece é que esses países todos, que foram países descobridores, que abriram essa nova era para a humanidade, estão se preparando intensamente para comemorar esses feitos. Naturalmente, eles vão comemorar do ponto de vista deles -o ponto de vista dos descobridores. E ficou claro, de repente, para nós, que havia necessidade de manifestar o ponto de vista dos descobertos, daqueles que foram descobertos e colonizados", declarou o cineasta, em vídeo de apresentação do projeto. No ano seguinte, o cineasta que transpôs "Macunaíma" para o cinema sucumbiu ao câncer, aos 56 anos de idade. E deixou apenas no papel a idéia de um filme com final antropofágico: "Antes e depois, desde 1500, colonizadores nacionais e estrangeiros vêm se sucedendo no Brasil. Oxalá, em breve, tenhamo-los comido todos". SENZALA & CIA - Roteiro e Diário. De: Joaquim Pedro de Andrade. Organização: Ana Maria Galano. Editora Aeroplano (0/xx/21/239-7399). 261 págs. R$ 36. Lançamento dia 10 de julho, em parceria com Bem-te-Vi e MAM/Rio, às 19h30, no Ateliê Culinário (r. Paul Hedfern, 41, Ipanema). Haverá mesa-redonda com Ana Maria Galano, Carlos Sussekind, Ítala Nandi, Mário Carneiro e Vivi Nabuco. Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: Trecho Índice |
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