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ARTIGO
Cultura e o futuro do centro de São Paulo
JORGE WILHEIM
ESPECIAL PARA A FOLHA
O bairro da Bela Vista, mais
conhecido como o Bixiga,
constitui um dos chamados bairros centrais de São Paulo.
O centro histórico desta metrópole permaneceu como "a cidade" até o início do século 20,
quando as grandes imigrações da
Europa levaram sua população de
65 mil, em 1890, para 265 mil habitantes.
Estruturaram-se alguns bairros
em torno da cidade, então ainda
circunscrita à colina entre o Tamanduateí e o Anhangabaú, ousando extravasar e preencher vazios além de seus vales.
Adensaram-se o Brás, a "cidade
nova" (atual praça da República e
arredores) e a subida suave para
as matas do alto (atual av. Paulista, av. Domingos de Moraes etc.)
pela encosta da Liberdade.
Empurrada pelas constantes levas de migrantes, demandando
espaços e moradias, a cidade
avançou também pelas meias encostas de outros córregos, afluentes do Anhangabaú, nascendo o
casario do Bixiga.
Durante todo o século 20 esse
bairro foi se adensando. Sua população, em boa parte constituída
por imigrantes italianos, criou
raízes, e se gerou um dos mais
aprazíveis lugares de São Paulo,
mistura de casas, cantinas e casas
de espetáculos, revelando sábio
convívio de atividades.
Esse convívio de atividades garante vida aos espaços públicos,
ruas e praças da Bela Vista, durante o dia e a noite, aumentando
a segurança que deixaria de existir
se esses espaços se tornassem desertos e abandonados.
Creio ser esse um bom exemplo
de como devolver qualidade a todo o centro de São Paulo, mormente a seu núcleo histórico original.
O programa de requalificação
do centro, apresentado pela prefeita Marta Suplicy há um mês,
propõe um centro de cidade em
que se ande, more, preserve, goze
de lazer e cultura, invista e governe melhor.
Além de disciplinar a paisagem
urbana e o exercício de comércio
de rua em lugares e modos apropriados, o programa busca também o convívio de atividades e a
vitalidade permanente dos espaços públicos, mormente criando
condições para o aumento de moradores.
Esse convívio de atividades
também será reforçado pela inserção e pelo aumento de atividades culturais: escolas, cursos noturnos, melhoria das casas de espetáculos (cinemas ou teatros) na
Cinelândia (av. São João e adjacências), construindo-se estacionamentos subterrâneos e se estabelecendo a ampliação de calçadas na região.
Outras atividades culturais também serão beneficiadas com o objetivo de requalificar o centro e os
bairros centrais: implantação de
um corredor cultural praça do Patriarca/biblioteca Mário de Andrade, estímulo à ampliação de
atividades do Masp (Museu de
Arte de São Paulo) na galeria
Prestes Maia e expansão de funções culturais geradas pelo novo
Centro Cultural Banco do Brasil,
mediante o redesenho da rua de
pedestres Álvares Penteado, do
largo do Café até o largo da Misericórdia, e sua utilização como espaço aberto e público para exposições ao ar livre.
Outra obra pública importante,
no campo da relação cultura-centro, será a implantação do Projeto
Monumenta, em que estão empenhados a Emurb (Empresa Municipal de Urbanização) e o DPH
(Departamento de Patrimônio
Histórico).
Trata-se da requalificação do
entorno de edifícios tombados e
recentemente reativados, como a
Pinacoteca, o Museu de Arte Sacra, a Sala São Paulo e o centro de
memória e cidadania no edifício
do largo Osório.
O financiamento do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) foi utilizado por diversas
cidades brasileiras, mas havia sido ignorado pela Prefeitura de
São Paulo na gestão anterior.
Em outros bairros centrais, como o Brás e o Pari, ou como e especialmente no Bixiga, tradicionais e novas atividades, públicas e
privadas, têm a potencialidade de
dar qualidade, intensidade e alegria à vida do centro da metrópole.
Cumpre finalmente lembrar
que a expansão de atividades culturais e sua vinculação à paisagem
física são elementos essenciais do
novo Plano Diretor, voltado para
a confirmação da metrópole paulistana como uma das mais importantes cidades globais.
Jorge Wilheim é arquiteto, urbanista,
autor do recém-lançado livro "Tênue Esperança no Vasto Caos" e secretário municipal de Planejamento Urbano
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