São Paulo, terça-feira, 03 de julho de 2001

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ARTIGO

Cultura e o futuro do centro de São Paulo

JORGE WILHEIM
ESPECIAL PARA A FOLHA

O bairro da Bela Vista, mais conhecido como o Bixiga, constitui um dos chamados bairros centrais de São Paulo.
O centro histórico desta metrópole permaneceu como "a cidade" até o início do século 20, quando as grandes imigrações da Europa levaram sua população de 65 mil, em 1890, para 265 mil habitantes.
Estruturaram-se alguns bairros em torno da cidade, então ainda circunscrita à colina entre o Tamanduateí e o Anhangabaú, ousando extravasar e preencher vazios além de seus vales.
Adensaram-se o Brás, a "cidade nova" (atual praça da República e arredores) e a subida suave para as matas do alto (atual av. Paulista, av. Domingos de Moraes etc.) pela encosta da Liberdade.
Empurrada pelas constantes levas de migrantes, demandando espaços e moradias, a cidade avançou também pelas meias encostas de outros córregos, afluentes do Anhangabaú, nascendo o casario do Bixiga.
Durante todo o século 20 esse bairro foi se adensando. Sua população, em boa parte constituída por imigrantes italianos, criou raízes, e se gerou um dos mais aprazíveis lugares de São Paulo, mistura de casas, cantinas e casas de espetáculos, revelando sábio convívio de atividades.
Esse convívio de atividades garante vida aos espaços públicos, ruas e praças da Bela Vista, durante o dia e a noite, aumentando a segurança que deixaria de existir se esses espaços se tornassem desertos e abandonados.
Creio ser esse um bom exemplo de como devolver qualidade a todo o centro de São Paulo, mormente a seu núcleo histórico original.
O programa de requalificação do centro, apresentado pela prefeita Marta Suplicy há um mês, propõe um centro de cidade em que se ande, more, preserve, goze de lazer e cultura, invista e governe melhor.
Além de disciplinar a paisagem urbana e o exercício de comércio de rua em lugares e modos apropriados, o programa busca também o convívio de atividades e a vitalidade permanente dos espaços públicos, mormente criando condições para o aumento de moradores.
Esse convívio de atividades também será reforçado pela inserção e pelo aumento de atividades culturais: escolas, cursos noturnos, melhoria das casas de espetáculos (cinemas ou teatros) na Cinelândia (av. São João e adjacências), construindo-se estacionamentos subterrâneos e se estabelecendo a ampliação de calçadas na região.
Outras atividades culturais também serão beneficiadas com o objetivo de requalificar o centro e os bairros centrais: implantação de um corredor cultural praça do Patriarca/biblioteca Mário de Andrade, estímulo à ampliação de atividades do Masp (Museu de Arte de São Paulo) na galeria Prestes Maia e expansão de funções culturais geradas pelo novo Centro Cultural Banco do Brasil, mediante o redesenho da rua de pedestres Álvares Penteado, do largo do Café até o largo da Misericórdia, e sua utilização como espaço aberto e público para exposições ao ar livre.
Outra obra pública importante, no campo da relação cultura-centro, será a implantação do Projeto Monumenta, em que estão empenhados a Emurb (Empresa Municipal de Urbanização) e o DPH (Departamento de Patrimônio Histórico).
Trata-se da requalificação do entorno de edifícios tombados e recentemente reativados, como a Pinacoteca, o Museu de Arte Sacra, a Sala São Paulo e o centro de memória e cidadania no edifício do largo Osório.
O financiamento do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) foi utilizado por diversas cidades brasileiras, mas havia sido ignorado pela Prefeitura de São Paulo na gestão anterior.
Em outros bairros centrais, como o Brás e o Pari, ou como e especialmente no Bixiga, tradicionais e novas atividades, públicas e privadas, têm a potencialidade de dar qualidade, intensidade e alegria à vida do centro da metrópole.
Cumpre finalmente lembrar que a expansão de atividades culturais e sua vinculação à paisagem física são elementos essenciais do novo Plano Diretor, voltado para a confirmação da metrópole paulistana como uma das mais importantes cidades globais.


Jorge Wilheim é arquiteto, urbanista, autor do recém-lançado livro "Tênue Esperança no Vasto Caos" e secretário municipal de Planejamento Urbano


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