ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

Alexandre Herchcovitch abriu o sexto dia de desfiles da São Paulo Fashion Week com uma coleção marcada por um intenso trabalho de silhuetas, em que pesos colocados por dentro das roupas alteravam o caimento. O evento termina hoje, depois de ter mostrado 30 coleções de verão na Bienal.
"Quis trabalhar com formas largas", diz Herchcovitch, que para esse exercício formal com materiais leves e diferentes pesos recuperou uma técnica antiga da alta-costura. O look traz como sempre os olhos encobertos, desta vez por uma peruca de velhinha, grisalha.
O verão do estilista é fechado, coberto, sem sexo. Apresenta um segmento todo em preto, no início, com peças intercambiáveis e algumas das soluções do masculino, como as faixas e tiras sobrepostas. O comprimento é pelo joelho, logo abaixo ou longo, algumas vezes arrastando no chão.
Flores de material refletivos foram costuradas nos vestidos e depois se desdobraram na estamparia do segundo segmento da coleção, que passa a incluir o amarelo e o vinho, em vestidos, saias, calças e paletozinhos estruturados.
No terceiro bloco, listras e patchworks gigantes, geométricos em amarelo, roxo, cinza e preto tomam conta de vestidões amplos, quadrados ou longos.
Em seguida veio o estilista paraense André Lima, estreante no evento. Imagens femininas acionam um universo passadista e quase surreal, com toureiros, ciganas, piratas e camisolinhas tipo boudoir, em mix de décadas, materiais e estampas.
Na primeira fila, estavam sentados (inexplicavelmente) três homens vestidos como os integrantes do grupo Kiss, perto de um outro vestido de Michael Jackson. A drag queen Salete Campari também estava lá, ocupando o lugar, talvez, de alguns jornalistas internacionais, que não conseguiram cadeira para se sentar.
Ficou faltando, entretanto, o mix de sexo e religião anunciado pelo estilista para sua coleção de verão. As principais novidades vieram no uso da padronagem de Iron Maiden nas formas de calças, saias e tops.
O estilo de André Lima é rebuscado e decorativo, com cintos largos e bijoux definindo a imagem. O jovem designer de 33 anos aproveitou a atenção despertada por sua estréia no evento para lançar uma linha de jeans, que apareceu sob as grandes saias, em lavagem mais clara, e numa bermuda tipo corsário, com botão na bainha.

Cavalera e Zoomp
A Cavalera estréia na São Paulo Fashion Week com o desfile jovem, divertido, cheio de frescor e provando que é possível fazer algo mais do que apenas um desfile de uma marca de streetwear.
Na boca de cena, um grande King Kong inflável abria os braços acolhendo a platéia e abrindo caminho para os modelos, que saíam de dentro de sua boca.
A inspiração da Cavalera em King Kong e na Monga, a mulher-gorila, vem em sensacionais estampas pop de banana, bem ampliadas, e também nas imagens de macacos.
A Zoomp encerrou o dia com um desfile inspirado em surf e no universo do balé, com referências aos anos 80.
A música punk muito alta e os sapatos que saíam dos pés das modelos comprometeram o desfile da marca, que tem Herchcovitch à frente da equipe de estilo.