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MÚSICA
"Com:Tradição" põe para "conversar", em São Paulo, novíssimos artistas e veteranos da música popular brasileira
Festival apresenta geração oculta do pop
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Não está no rádio, nem na televisão. Mas uma novíssima geração do pop nacional existe -e estará reunida de hoje a domingo
no festival "Com:Tradição", no
Sesc Pompéia, em São Paulo.
A idéia, bolada pelo produtor
musical e jornalista Alex Antunes,
43, é mostrar novíssimas tendências brasileiras, em contraste com e em
companhia da "tradição".
Essa será representada pela participação, em várias das apresentações, de vanguardistas veteranos da MPB -Elza Soares, Naná
Vasconcellos, Jards Macalé, Maria Alcina, Arnaldo Baptista e o
saxofonista J.T. Meirelles.
"Tocar com esse pessoal mais
jovem destrava a gente", sintetiza
do lado de lá Macalé, que já vem
se apresentando com o grupo eletrônico carioca Vulgue Tostoi.
"Adotei a grafia querendo significar as duas coisas, "com tradição"
e "contradição",. Depois das vanguardas da arte no século passado, e particularmente do punk na
música popular, essas estéticas de
negação chegaram ao esgotamento", justifica Antunes.
O tom afirmativo não afugenta
negação e agressividade, como ele
revela ao admitir forte influência
tropicalista no conceito.
"Se Caetano Veloso hoje é o fantasma espanhol do Castelo de Caras, vamos salvar Caetano do Caetano, salvar o que o cara foi do que
o cara é."
Os novos artistas escalados vêm
de seis Estados do Brasil e foram
alocados por Antunes em noites
temáticas -de pós-feminismo,
"retropicalismo", pós-samba e
black music brasileira.
Pós-feminista seria, por exemplo, a cearense Karine Alexandrino, 28, que vem mostrar a São Paulo pela primeira vez sua personagem multimídia Producta.
"Producta é a cantora, não eu.
Muitas cantoras podem estar
dentro dela, mas ela não é cópia
de ninguém. A música para mim
é um meio, não um fim", define.
Representante da noite "retropicalista", Curumin, 26, lança seu
recém-preparado disco de estréia
no festival. Talvez coubesse melhor na noite do samba, segundo
sua própria definição.
"Tenho esse apelido desde pequeno, porque tenho ascendência
japonesa e tinha cabelo tipo tigela.
Sou paulistano, japonês e espanhol tocando um samba de japonês, meio canastrão", define-se.
Vem de um liquidificador de referências: tocou com Paula Lima
na banda black Zomba, integra a
banda de Arnaldo Antunes, é fã
de Adoniran Barbosa e Jorge Ben.
"Nossa geração é totalmente isso,
o cara ouve de tudo um pouco
-hip hop, eletrônica, funk."
O elenco vai definindo, aos poucos, o que é "Com:Tradição". "A
contradição é usar elementos tradicionais de nossa cultura de forma não ortodoxa, mas subvertendo a ordem, como os antigos faziam", dizem coletivamente, por e-mail, os pernambucanos do
Bonsucesso SambaClube.
"É o encontro de artistas de
quatro escolas e gerações diferentes, mas que têm em comum o fato de que todo mundo é ligado ao groove, ao balanço, à música da
diáspora africana", diz Rodrigo
Brandão, 30, do Mamelo Sound
System, sobre os shows do grupo
com Naná Vasconcelos e do núcleo produtivo Instituto com J.T.
Meirelles. A base é "música perigosa, no melhor sentido", diz.
No fervor dos encontros entre "novos" e "velhos" cabem, também, os intermediários. É o caso do paulista Beto Villares, 36, que,
prestes a lançar seu álbum solo de estréia, "Excelentes Lugares Bonitos", já atuou como produtor de Pato Fu, Mestre Ambrósio, Rappin" Hood, Zélia Duncan etc.
"Samb'O'Matyca" remete a
samba e a computador. Eu gosto
dos dois", simplifica, justificando
o nome glauberiano de sua noite.
Outro caso é o do baiano apaulistanado Moisés Santana, 42, veterano que só no ano passado estreou em disco, misturando "cavaquinho com guitarra apenas
porque soa legal", e não para quebrar barreiras que ele julga já quebradas pelos tropicalistas.
Fundador de um fã-clube dos
Mutantes nos anos 80, Santana se
reencontra amanhã com o mutante Arnaldo Baptista -vão fazer, juntos, "Cê Tá Pensando que Eu Sou Lóki?" e "Será que Eu Vou
Virar Bolor", ambas do desesperado álbum "Lóki?" (74), de Arnaldo. Com tradição.
COM:TRADIÇÃO. Festival no Sesc
Pompéia (r. Clélia, 93, tel. 0/xx/11/3871-7700). Quando: de hoje a sáb., às 20h30, e dom., às 18h. Quanto: R$ 15.
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