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São Paulo, quinta-feira, 03 de julho de 2003

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MÚSICA

"Com:Tradição" põe para "conversar", em São Paulo, novíssimos artistas e veteranos da música popular brasileira

Festival apresenta geração oculta do pop

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Não está no rádio, nem na televisão. Mas uma novíssima geração do pop nacional existe -e estará reunida de hoje a domingo no festival "Com:Tradição", no Sesc Pompéia, em São Paulo.
A idéia, bolada pelo produtor musical e jornalista Alex Antunes, 43, é mostrar novíssimas tendências brasileiras, em contraste com e em companhia da "tradição".
Essa será representada pela participação, em várias das apresentações, de vanguardistas veteranos da MPB -Elza Soares, Naná Vasconcellos, Jards Macalé, Maria Alcina, Arnaldo Baptista e o saxofonista J.T. Meirelles.
"Tocar com esse pessoal mais jovem destrava a gente", sintetiza do lado de lá Macalé, que já vem se apresentando com o grupo eletrônico carioca Vulgue Tostoi.
"Adotei a grafia querendo significar as duas coisas, "com tradição" e "contradição",. Depois das vanguardas da arte no século passado, e particularmente do punk na música popular, essas estéticas de negação chegaram ao esgotamento", justifica Antunes.
O tom afirmativo não afugenta negação e agressividade, como ele revela ao admitir forte influência tropicalista no conceito.
"Se Caetano Veloso hoje é o fantasma espanhol do Castelo de Caras, vamos salvar Caetano do Caetano, salvar o que o cara foi do que o cara é."
Os novos artistas escalados vêm de seis Estados do Brasil e foram alocados por Antunes em noites temáticas -de pós-feminismo, "retropicalismo", pós-samba e black music brasileira.
Pós-feminista seria, por exemplo, a cearense Karine Alexandrino, 28, que vem mostrar a São Paulo pela primeira vez sua personagem multimídia Producta.
"Producta é a cantora, não eu. Muitas cantoras podem estar dentro dela, mas ela não é cópia de ninguém. A música para mim é um meio, não um fim", define.
Representante da noite "retropicalista", Curumin, 26, lança seu recém-preparado disco de estréia no festival. Talvez coubesse melhor na noite do samba, segundo sua própria definição.
"Tenho esse apelido desde pequeno, porque tenho ascendência japonesa e tinha cabelo tipo tigela. Sou paulistano, japonês e espanhol tocando um samba de japonês, meio canastrão", define-se.
Vem de um liquidificador de referências: tocou com Paula Lima na banda black Zomba, integra a banda de Arnaldo Antunes, é fã de Adoniran Barbosa e Jorge Ben. "Nossa geração é totalmente isso, o cara ouve de tudo um pouco -hip hop, eletrônica, funk."
O elenco vai definindo, aos poucos, o que é "Com:Tradição". "A contradição é usar elementos tradicionais de nossa cultura de forma não ortodoxa, mas subvertendo a ordem, como os antigos faziam", dizem coletivamente, por e-mail, os pernambucanos do Bonsucesso SambaClube.
"É o encontro de artistas de quatro escolas e gerações diferentes, mas que têm em comum o fato de que todo mundo é ligado ao groove, ao balanço, à música da diáspora africana", diz Rodrigo Brandão, 30, do Mamelo Sound System, sobre os shows do grupo com Naná Vasconcelos e do núcleo produtivo Instituto com J.T. Meirelles. A base é "música perigosa, no melhor sentido", diz.
No fervor dos encontros entre "novos" e "velhos" cabem, também, os intermediários. É o caso do paulista Beto Villares, 36, que, prestes a lançar seu álbum solo de estréia, "Excelentes Lugares Bonitos", já atuou como produtor de Pato Fu, Mestre Ambrósio, Rappin" Hood, Zélia Duncan etc.
"Samb'O'Matyca" remete a samba e a computador. Eu gosto dos dois", simplifica, justificando o nome glauberiano de sua noite.
Outro caso é o do baiano apaulistanado Moisés Santana, 42, veterano que só no ano passado estreou em disco, misturando "cavaquinho com guitarra apenas porque soa legal", e não para quebrar barreiras que ele julga já quebradas pelos tropicalistas.
Fundador de um fã-clube dos Mutantes nos anos 80, Santana se reencontra amanhã com o mutante Arnaldo Baptista -vão fazer, juntos, "Cê Tá Pensando que Eu Sou Lóki?" e "Será que Eu Vou Virar Bolor", ambas do desesperado álbum "Lóki?" (74), de Arnaldo. Com tradição.


COM:TRADIÇÃO. Festival no Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, tel. 0/xx/11/3871-7700). Quando: de hoje a sáb., às 20h30, e dom., às 18h. Quanto: R$ 15.


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