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CRÍTICA
Das diferenças entre ler e ver televisão
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Deu no jornal esses dias: os
brasileiros despendem 18,4
horas assistindo à televisão por
semana e apenas 5,2 horas com
leitura no mesmo período. Os
dados são de uma pesquisa que
avaliou e comparou os hábitos
em relação à mídia em 30 países.
Se serve de algum consolo, os
brasileiros não estão sozinhos.
No mundo inteiro, a leitura é a
atividade relacionada à aquisição
de informações que menos toma
o tempo das pessoas. A tendência global é clara: a televisão, que
consome 16,6 horas semanais,
ganha de longe do rádio (8) e da
leitura (6,5) e, ainda, do computador/internet (8,9).
Não deveria constituir uma
surpresa o fato de que se lê menos do que se vê televisão, mas
ainda assim os números parecem meio chocantes. Mesmo entre aqueles que mais dedicam
tempo à leitura, os índices parecem reduzidos. Os três primeiros
colocados no "ranking" de leitores não chegam a ler por dia mais
do que uma hora: indianos, com
10,7 horas/semana, tailandeses,
com 9,4, e chineses, com 8.
Enquanto isso, em relação à televisão, apenas em cinco dos 30
países pesquisados se vê menos
de duas horas por dia: Austrália
(13,3 horas/semana), Suécia
(13,3), Índia (12,3), Venezuela
(11,9) e México (11,6). Sacrificando um pouco a precisão, pode-se
dizer que no mundo todo a televisão ocupa o dobro do tempo na
vida das pessoas do que a leitura.
Não é difícil de entender o porquê, na verdade, mas vale se deter um pouco nas diferenças entre ler e assistir à TV.
A leitura é uma atividade solitária, em todos os sentidos. Requer silêncio e concentração do
leitor, mas para, além disso, o
que se lê é (quase sempre) uma
escolha individual e pessoal. O
"quase sempre" vai por conta
dos fenômenos modernos tipo
"O Código Da Vinci" e os livros
da série "Harry Potter", que "coletivizam" a experiência da leitura em escala global -é uma suposição apenas, mas parte do sucesso desses best-sellers deve vir
do fato de que eles tornam a experiência de leitura mais coletiva.
Tudo o que se alega contra ler
-dificuldade de concentração,
de entendimento, aridez, falta de
tempo e paciência, chatice- remete um pouco à idéia de que a
leitura exige um comprometimento, um engajamento do sujeito com aquilo que se lê, se pensa e se sente, por conseqüência.
E, se, ainda por cima, pensarmos
que esse engajamento se dá numa relação íntima, a dois -apenas o leitor e o texto, pelo menos
no momento da leitura -, talvez
tenhamos uma pista aí.
A TV, não. A TV é povoada e,
ainda que falsamente, dá a impressão de inserir o sujeito numa
comunidade. Não deixa o espectador com a angústia de escolher
e sustentar sua escolha é só se
deixar levar por aquilo que está
sendo exibido e partilhado tanto
com a "audiência", que se sabe
ou se adivinha ou até mesmo está
representada (nos programas de
auditório, por exemplo), como
com todos aqueles sujeitos do
"lado de dentro", ou seja, os que
fazem a TV.
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