São Paulo, domingo, 03 de julho de 2005

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ARTIGO

Carta aberta aos líderes do G8

BOB GELDOF
ESPECIAL PARA O "INDEPENDENT"

Vamos deixar tudo bem claro... Os concertos Live8 que aconteceram ontem foram uma ocasião musical maravilhosa. No entanto, a despeito do fato de que os maiores músicos populares do mundo estiveram tocando, não foram eles os astros do evento. O "8" em Live8 não representa oito músicos ou oito bandas. Representa vocês, os oito líderes do G8 (grupo dos sete países mais industrializados do mundo mais a Rússia).
Quero deixar isso perfeitamente claro logo de início. Todo mundo que está participando desses concertos (além dos de ontem, outro ocorrerá no dia 6 de junho) o faz porque as muitas gerações de pessoas que nos assistirão não continuarão tolerando o sofrimento dos pobres quando dispomos dos meios financeiros e morais para impedi-lo.
Estamos obtendo para vocês o maior mandato para ação da história. Da mesma forma que as pessoas exigiram o final da escravidão, o sufrágio feminino, o final do apartheid, elas agora pedem pelo final da absurda injustiça de uma pobreza extrema que causa a morte de 50 mil pessoas por dia em pleno século 21.
O Live8 aconteceu para que vocês, nossos líderes eleitos, agora, em 2005, realizem o avanço exigido por, entre outros, a Comissão pela África, na batalha por tornar a pobreza uma parte do passado. Vocês sabem o que precisa ser feito, especificamente.
Quanto à assistência: prover US$ 25 bilhões em assistência adicional à África e preparar planos para garantir que essa assistência seja verdadeiramente eficaz na erradicação da pobreza. Essa quantia precisa ser somada a outros US$ 25 bilhões destinados aos países mais pobres do mundo. Trata-se do absoluto mínimo requerido para começar a vencer a batalha contra a pobreza extrema.
Quanto à dívida: confirmar o perdão de 100% das dívidas anunciado na reunião dos ministros das Finanças do G8 e assumir o compromisso de perdoar 100% da dívida de todos os países que precisem disso e de remover as políticas econômicas prejudiciais que lhes são impostas como condição.
Quanto ao comércio internacional: tomar medidas decisivas para pôr fim às regras de comércio injustas e permitir que os países pobres construam suas economias ao ritmo deles. É só por meio do comércio que a África poderá um dia derrotar a pobreza por conta própria.
Quero deixar igualmente claro que, ao mesmo tempo, os governos africanos precisam estar livres da corrupção e do banditismo e adotar práticas reconhecidas de boa gestão, prestação de contas e transparência diante de seus povos e do mundo.
Vinte anos atrás, no Live Aid, pedimos caridade. Agora, com o Live8, queremos justiça para os pobres. A reunião do G8 nos próximos dias pode dar os primeiros passos reais em direção à erradicação dos extremos de pobreza, de uma vez por todas.
Nós não aplaudiremos meias medidas ou retórica vazia. Precisamos de um avanço histórico.
Haverá barulho, música e alegria, a alegria da possibilidade exuberante. Na sexta-feira, haverá um grande silêncio, enquanto o mundo aguarda seu veredicto.
Não nos desapontem. Não criem uma geração de cínicos. Não traiam os desejos e as esperanças dos pobres do mundo. Devemos ou não permitir que aquelas 50 mil pessoas que morrem por dia continuem a viver?


O cantor Bob Geldof é um dos organizadores do Live8

Tradução de Paulo Migliacci


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