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ARTIGO
Carta aberta aos líderes do G8
BOB GELDOF
ESPECIAL PARA O "INDEPENDENT"
Vamos deixar tudo bem claro...
Os concertos Live8 que aconteceram ontem foram uma ocasião
musical maravilhosa. No entanto,
a despeito do fato de que os maiores músicos populares do mundo
estiveram tocando, não foram
eles os astros do evento. O "8" em
Live8 não representa oito músicos ou oito bandas. Representa
vocês, os oito líderes do G8 (grupo dos sete países mais industrializados do mundo mais a Rússia).
Quero deixar isso perfeitamente claro logo de início. Todo mundo que está participando desses
concertos (além dos de ontem,
outro ocorrerá no dia 6 de junho)
o faz porque as muitas gerações
de pessoas que nos assistirão não
continuarão tolerando o sofrimento dos pobres quando dispomos dos meios financeiros e morais para impedi-lo.
Estamos obtendo para vocês o
maior mandato para ação da história. Da mesma forma que as
pessoas exigiram o final da escravidão, o sufrágio feminino, o final
do apartheid, elas agora pedem
pelo final da absurda injustiça de
uma pobreza extrema que causa a
morte de 50 mil pessoas por dia
em pleno século 21.
O Live8 aconteceu para que vocês, nossos líderes eleitos, agora,
em 2005, realizem o avanço exigido por, entre outros, a Comissão
pela África, na batalha por tornar
a pobreza uma parte do passado.
Vocês sabem o que precisa ser feito, especificamente.
Quanto à assistência: prover
US$ 25 bilhões em assistência
adicional à África e preparar planos para garantir que essa assistência seja verdadeiramente eficaz na erradicação da pobreza.
Essa quantia precisa ser somada a
outros US$ 25 bilhões destinados
aos países mais pobres do mundo. Trata-se do absoluto mínimo
requerido para começar a vencer
a batalha contra a pobreza extrema.
Quanto à dívida: confirmar o
perdão de 100% das dívidas
anunciado na reunião dos ministros das Finanças do G8 e assumir
o compromisso de perdoar 100%
da dívida de todos os países que
precisem disso e de remover as
políticas econômicas prejudiciais
que lhes são impostas como condição.
Quanto ao comércio internacional: tomar medidas decisivas
para pôr fim às regras de comércio injustas e permitir que os países pobres construam suas economias ao ritmo deles. É só por
meio do comércio que a África
poderá um dia derrotar a pobreza
por conta própria.
Quero deixar igualmente claro
que, ao mesmo tempo, os governos africanos precisam estar livres da corrupção e do banditismo e adotar práticas reconhecidas de boa gestão, prestação de
contas e transparência diante de
seus povos e do mundo.
Vinte anos atrás, no Live Aid,
pedimos caridade. Agora, com o
Live8, queremos justiça para os
pobres. A reunião do G8 nos próximos dias pode dar os primeiros
passos reais em direção à erradicação dos extremos de pobreza,
de uma vez por todas.
Nós não aplaudiremos meias
medidas ou retórica vazia. Precisamos de um avanço histórico.
Haverá barulho, música e alegria, a alegria da possibilidade
exuberante. Na sexta-feira, haverá um grande silêncio, enquanto
o mundo aguarda seu veredicto.
Não nos desapontem. Não
criem uma geração de cínicos.
Não traiam os desejos e as esperanças dos pobres do mundo. Devemos ou não permitir que aquelas 50 mil pessoas que morrem
por dia continuem a viver?
O cantor Bob Geldof é um dos organizadores do Live8
Tradução de Paulo Migliacci
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