São Paulo, sexta-feira, 03 de julho de 2009

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"Relação de mães e filhas é complexa", diz O'Brien

Escritora irlandesa fala hoje em debate na Flip sobre relações familiares

Premiada com o Booker Prize, a conterrânea Anne Enright participa de discussão amanhã com americano James Salter


RAQUEL COZER
ENVIADA ESPECIAL A PARATY

Ao resenhar para o jornal britânico "Guardian" o romance "A Luz da Noite", de Edna O'Brien, a escritora Anne Enright escreveu: "Por algumas décadas, ela foi a única mulher irlandesa a fazer sexo -o resto só tinha filhos".
As duas irlandesas, que participam da 7ª Flip -Edna O'Brien fala hoje, às 15h, e Anne Enright, amanhã, no mesmo horário-, têm em comum livros que tratam do abuso sexual na infância, com uma diferença: O'Brien abriu caminho para que Enright, vencedora do Booker Prize 2007 (por "O Encontro", Alfaguara), pudesse abordar o assunto.
Enright nasceu pouco depois de O'Brien, 78, lançar seu primeiro livro, "The Country Girls" (1960). Na época, a Irlanda passava por denúncias de abuso sexual na igreja, e a obra, sobre meninas que quebravam tabus, foi banida, assim como seus romances seguintes.
Isso explica o tema da mesa de O'Brien na Flip -"Sentidos da Transgressão"-, embora ela não pense em se limitar ao assunto. "Estou feliz por incluírem a ideia da transgressão na minha fala, mas há muito mais na vida que a transgressão. Há guerra, há amor. E há o avesso da transgressão, a repressão", disse ela, ontem, à Folha.
A repressão ela viveu também em família -sua mãe nunca escondeu a mágoa pelos livros que ela escreveu. Em "A Luz da Noite" (Record, R$ 49, 384 págs.), publicado em 2006 e recém-lançado no Brasil, essa lembrança volta. O livro trata de uma mulher à beira da morte que espera a visita da filha, escritora criticada pela sensualidade de seus textos.
"James Joyce disse que toda a ficção é autobiografia fantasiada. A mãe do livro tem elementos da minha, mas filtrados pela imaginação. Me interesso por relações entre mães e filhas. É muito mais complexo que entre mãe e filho. Tem a ver com ser mulher."

Pedras e palmito
Desde terça em Paraty, O'Brien passeou de barco até a ilha do Catimbau, provou palmito pela primeira vez na vida -adorou- e tentou lidar com os caminhos de pedras irregulares da cidade -detestou.
"Aqui é tudo tão diferente", diz. "É uma cidade adorável, esse verde, essa cor, os pássaros e... a quantidade considerável de música", ri, como quem gostaria de um pouco de paz. "Aqui, no barco, vendo o mar, esse verde todo, de repente entendi melhor "O Amor nos Tempos do Cólera" [de Gabriel García Márquez]."
Da literatura brasileira, conhece "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis, que considera "brilhante de uma maneira diferente da de Joyce". Sobre o irlandês, a autora escreveu uma elogiada biografia, "James Joyce", de 1999, que a Objetiva relança (preço a definir, 190 págs.)
"Ele é a fonte para todos os escritores irlandeses. Muitos tentam escrever "joyceanamente". São parasitas. É diferente ser parasita e ser influenciado. Ser influenciado não é tentar escrever igual, mas ter a mesma força."

Veja a cobertura da Flip

www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2009/flip


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