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"Relação de mães e filhas é complexa", diz O'Brien
Escritora irlandesa fala hoje em debate na Flip sobre relações familiares
Premiada com o Booker Prize, a conterrânea Anne Enright participa de discussão amanhã com americano James Salter
RAQUEL COZER
ENVIADA ESPECIAL A PARATY
Ao resenhar para o jornal britânico "Guardian" o romance
"A Luz da Noite", de Edna
O'Brien, a escritora Anne
Enright escreveu: "Por algumas
décadas, ela foi a única mulher
irlandesa a fazer sexo -o resto
só tinha filhos".
As duas irlandesas, que participam da 7ª Flip -Edna
O'Brien fala hoje, às 15h, e Anne
Enright, amanhã, no mesmo
horário-, têm em comum livros que tratam do abuso sexual na infância, com uma diferença: O'Brien abriu caminho
para que Enright, vencedora do
Booker Prize 2007 (por "O Encontro", Alfaguara), pudesse
abordar o assunto.
Enright nasceu pouco depois
de O'Brien, 78, lançar seu primeiro livro, "The Country
Girls" (1960). Na época, a Irlanda passava por denúncias de
abuso sexual na igreja, e a obra,
sobre meninas que quebravam
tabus, foi banida, assim como
seus romances seguintes.
Isso explica o tema da mesa
de O'Brien na Flip -"Sentidos
da Transgressão"-, embora ela
não pense em se limitar ao assunto. "Estou feliz por incluírem a ideia da transgressão na
minha fala, mas há muito mais
na vida que a transgressão. Há
guerra, há amor. E há o avesso
da transgressão, a repressão",
disse ela, ontem, à Folha.
A repressão ela viveu também em família -sua mãe nunca escondeu a mágoa pelos livros que ela escreveu. Em "A
Luz da Noite" (Record, R$ 49,
384 págs.), publicado em 2006
e recém-lançado no Brasil, essa
lembrança volta. O livro trata
de uma mulher à beira da morte que espera a visita da filha,
escritora criticada pela sensualidade de seus textos.
"James Joyce disse que toda
a ficção é autobiografia fantasiada. A mãe do livro tem elementos da minha, mas filtrados pela imaginação. Me interesso por relações entre mães e
filhas. É muito mais complexo
que entre mãe e filho. Tem a
ver com ser mulher."
Pedras e palmito
Desde terça em Paraty,
O'Brien passeou de barco até a
ilha do Catimbau, provou palmito pela primeira vez na vida
-adorou- e tentou lidar com
os caminhos de pedras irregulares da cidade -detestou.
"Aqui é tudo tão diferente",
diz. "É uma cidade adorável, esse verde, essa cor, os pássaros
e... a quantidade considerável
de música", ri, como quem gostaria de um pouco de paz.
"Aqui, no barco, vendo o mar,
esse verde todo, de repente entendi melhor "O Amor nos
Tempos do Cólera" [de Gabriel
García Márquez]." Da literatura brasileira, conhece "Memórias Póstumas de
Brás Cubas", de Machado de
Assis, que considera "brilhante
de uma maneira diferente da de
Joyce". Sobre o irlandês, a autora escreveu uma elogiada
biografia, "James Joyce", de
1999, que a Objetiva relança
(preço a definir, 190 págs.) "Ele é a fonte para todos os
escritores irlandeses. Muitos
tentam escrever "joyceanamente". São parasitas. É diferente ser parasita e ser influenciado. Ser influenciado não é
tentar escrever igual, mas ter a
mesma força."
Veja a cobertura da Flip
www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2009/flip
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