São Paulo, sexta-feira, 03 de julho de 2009

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CINEMA/ESTREIAS

Crítica/"Inimigo Público nº 1 - Instinto de Morte"


Cinebiografia empilha eventos de bandido excêntrico

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

"Inimigo Público Nº 1 - Instinto de Morte" sofre de dois problemas fundamentais (além do título interminável). O primeiro é a conhecida incompetência do cinema comercial francês, incapaz, ao filmar uma biografia, de outra coisa que não um acumular interminável de fatos sem substância.
O segundo é que ninguém no Brasil sabe quem foi Jacques Mesrine, o inimigo público referido no título. O primeiro problema é contornável: a cinebiografia de Edith Piaf fez sucesso apesar de ter o mesmo tipo de problema.
Mas era Piaf. Não que Mesrine não mereça ser conhecido. Ele faz parte da galeria de bandidos extremamente audazes e imaginativos que a França produz de tempos em tempos (talvez seja uma evocação de Arsène Lupin, o genial ladrão criado por Maurice Leblanc e hoje lamentavelmente esquecido).
Os feitos de Mesrine são extravagantes. Um deles os representa bem: depois de armar uma fuga de uma penitenciária de segurança máxima, no Canadá (graças a sua capacidade de observação, basicamente), ele volta com um colega para tentar livrar mais outros três presidiários.
Mesrine não é um bandido social, digamos assim. Veio de uma família de comerciantes bem-sucedidos. O essencial de seu aprendizado criminal parece que se deu na Guerra da Argélia. O filme não esclarece se seu "instinto de morte" foi adquirido ali. Parece que era violento desde a adolescência (o filme nada esclarece a esse respeito). Em todo caso, esse é seu temperamento quando volta da guerra e logo se associa a um grupo de gângsters ligados à OAS, a célebre organização terrorista que pretendia, entre outras, matar De Gaulle.

Armadilha
De volta ao filme: ele começa bem, valorizado pela presença carismática de Vincent Cassel e pela variedade de episódios (guerra, assaltos a bancos, casamentos, violência contra cafetões, prisões etc.). À medida que passa o tempo, no entanto, o filme se ressente de uma ideia forte que o unifique e se limita a empilhar acontecimentos, como com Piaf. Para quem conhece sua trajetória, pode até ser ilustrativo. Para quem não conhece, significa pouca coisa.
Ou seja, as cinebiografias, assim como os filmes "baseados em fatos reais", são antes de mais nada uma armadilha para cineastas medianos, caso de Jean-François Richet, que tem desenvoltura para a imagem, mas nem tanto para as ideias. Em tempo, "Instinto de Morte" é a primeira parte da cinebiografia de Mesrine e tem como base principal o livro escrito pelo próprio (quando estava na cadeia, naturalmente).


INIMIGO PÚBLICO Nº 1 - INSTINTO DE MORTE

Direção: Jean-Francois Richet
Produção: França/ Canadá, 2008
Com: Vincent Cassel, Gerard Depardieu
Onde: a partir de hoje nos cines Cidade Jardim, Cine UOL Lumière, Espaço Unibanco Pompeia e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: regular




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