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CRÍTICA POESIA
Tradução sem contexto embota Pushkin
Primeira adaptação ao português de romance em versos do autor russo peca por introdução pouco informativa
NOEMI JAFFE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Nenhum poeta supera
Pushkin -nem mesmo Dante-, pela velocidade, precisão e beleza de sua narrativa.
Quanto chão Oneguin cobre
em tão pouco espaço! Quanta concisão e ainda quanta
facilidade em cada estrofe!"
Assim o crítico Edmund
Wilson, um dos mais importantes do século 20, descreve
a maior obra de Alexander
Pushkin (1799-1837), "Eugênio Oneguin", traduzida pela
primeira vez ao português.
A consideração que Wilson tinha por Pushkin era
compartilhada pelo escritor
Vladimir Nabokov, que passou cerca de dez anos se dedicando a uma tradução comentada de Oneguin, que,
após publicada, foi duramente criticada pelo próprio
Wilson, numa polêmica que
separou os dois amigos e que
ocupou os jornais e as cabeças da intelectualidade americana em 1965.
É de estranhar, portanto,
que, na tradução brasileira,
após silêncio tão longo (o
poema é de 1833) e com uma
obra deste porte e o desconhecimento do leitor de língua portuguesa sobre a língua russa, a introdução do
tradutor ao livro seja tão pouco informativa.
Ficamos sabendo, através
dela, de dados importantes
da vida de Pushkin (tinha
traços de identidade claros
com o protagonista, perdeu
sua vida num duelo e era descendente de um príncipe
abissínio), da história geral
do romance em versos e algo
sobre o tradutor (foi diplomata brasileiro na Rússia e passou cerca de dez anos traduzindo o romance). E só.
Não há comentários extensivos sobre detalhes, problemas e soluções do trabalho
de tradução, sobre especificidades do próprio poema e da
língua russa. Só definições
de nomes citados, de trechos
em latim e de palavras desconhecidas.
Com tão pouco esclarecimento e com a distância entre o português e o russo, fica
difícil aproximarmo-nos de
alguma avaliação sobre a tradução e da aclamada importância do poema.
SEM RESPOSTAS
Por que Pushkin é, para
Wilson, maior do que Dante?
Como foi feita a operação de
unificação da língua russa,
até então supostamente esfacelada e maltratada?
Lemos o poema, admiramos a história, as alusões à
cultura russa da época e a
enorme influência da França
sobre a vida de sua elite, percebemos fluência rítmica e
poética, mas não entendemos as palavras de Wilson.
Uma edição dessa dimensão não pode simplesmente
tratar o texto e a tradução
(que pode até ser muito boa)
como se fosse uma história
para entreter o leitor.
Num caso como este, o
percurso da tradução é quase
tão importante quanto a própria narrativa.
EUGÊNIO ONEGUIN
AUTOR Alexander Pushkin
TRADUÇÃO Dário Castro Alves
EDITORA Record
QUANTO R$ 47,90 (288 págs.)
AVALIAÇÃO regular
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