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"SETE MINUTOS"
Fagundes declara amor pelo teatro
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Em 92 , na turnê pelo Brasil da
montagem de "Macbeth" por
Ulisses Cruz, havia um culto por
silêncio e pontualidade. Na coxia,
todos ficavam imóveis durante o
monólogo sobre existência: "A vida é cheia de som e de fúria". É
porque o ator que se expunha se
chamava Antônio Fagundes. E, se
houvesse som, haveria fúria.
Há muitas histórias a se contar.
Como toda temporada da peça
maldita escocesa, houve fantasma, dois incêndios, uma queda de
refletor. Mas -e esse é o folclore
pessoal de Fagundes- a peça começava infalivelmente no horário, mesmo com a platéia ainda
enfumaçada do incêndio recém-debelado, mesmo com uma chuva torrencial alagando São Paulo.
Quem chega atrasado não entra:
em "Macbeth", duas vezes o público furioso chamou a polícia,
pelo direito de estar atrasado.
Disso fala "Sete Minutos", texto
que Fagundes escreveu para entender a si mesmo, sua trajetória
de 37 anos em briga quixotesca
pelo respeito ao ritual da representação: uma declaração de
amor ao teatro. E ele ganha a platéia logo nos primeiros instantes.
Macbeth, mais frágil após dez
anos, mas sem ter recuado em um
centímetro em suas convicções,
enfrenta com coragem a tosse na
platéia, mas acaba jogando a toalha e abandona a cena.
A peça continua nos camarins,
onde vemos o heroísmo da "cozinha" do teatro, a briga pela sobrevivência econômica, o desalento
pela má educação do público.
Com o teatro cercado pela polícia,
recebe o representante do público
expulso (Tácito Rocha, pungente)
uma evangélica representando os
atrasados (a vigorosa Neusa Maria Faro) e um tenente que tenta
entender o caso (o impagável Luiz
Amorim). O público se reconhece
em cena e ri, cumprindo-se assim
a função pedagógica do teatro.
Mas "Sete Minutos" não tem o
vigor que poderia ter. Só enfrenta
a platéia em breves momentos pirandellianos, saindo do personagem para atender um telefone na
platéia, ou para, no discurso "do
autor", tentar explicar em nome
de que insiste no estrito cumprimento do ritual teatral. São esses
os melhores momentos. Infelizmente, a direção dá toda a ênfase
para o que há de mais antigo em
seu texto: a devassa da coxia acaba
redundando em sucessão de solos, no modelo de "Deus lhe pague", que foi superado após o
Teatro Brasileiro de Comédia.
Mas isso já não importa muito
quando, na última cena, Fagundes olha no olho do público e confessa sua esperança de que pelo
menos um se contagie por seu
amor ao teatro. Foi assim quando,
há dez anos, censurou um contra-regras desajeitado: "Você não teve a intenção de errar? Esse é o erro: é sempre preciso ter intenção".
E é essa a última história sobre Fagundes: quis o acaso que fosse esse contra-regras o encarregado de
escrever a presente crítica.
Sete Minutos
Direção: Bibi Ferreira
Onde: Cultura Artística (r. Nestor
Pestana, 196, tel. 0/xx/11/3258-3344)
Quando: qui. a sáb., às 21h; dom., às 18h
Quanto: de R$ 30 a R$ 70
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