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São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2003

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MÔNICA BERGAMO

Chris von Ameln/Folha Imagem
GABRIELA DUARTE A atriz acende incenso no camarim e não entra em cena sem jogar gotas de perfume no corpo; no balcão há fotos, um coelhinho (presente de Cristina Mutarelli), o livro "Divã", de Martha Medeiros, e um caderno de pensamentos

Espelho, espelho meu
O paulistano que gosta de teatro não precisa mais se preocupar com sua agenda: São Paulo poucas vezes apresentou uma temporada tão rica quanto a exibida agora na cidade. Há nada menos do que 150 produções em cartaz, entre montagens adultas, infanto-juvenis e infantis.
 
Da performance de Denise Stoklos ("Vozes Dissonantes") ao humor de Jô Soares ("Na Mira do Gordo") e Juca de Oliveira ("A Flor do Meu Bem-Querer") passando pelo drama de Tony Ramos ("Novas Diretrizes em Tempos de Paz"), pelo musical de Marília Pêra e pelo solo de Paulo Autran ("Quadrante"), a cidade se prepara para receber nova leva de grandes atores.

VEM AÍ
Debora Bloch e Diogo Vilela estréiam no dia 8 com "Tio Vânia". Debora Colker volta com "Rota" nos dias 8, 9 e 10. No dia 15, Tônia Carrero estréia "A Visita da Velha Senhora" no Sérgio Cardoso. É pouco? Pois Regina Duarte deve começar a ensaiar em setembro.

PIQUE-PIQUE
Tônia Carrero, aliás, faz 81 anos no dia 23 -como o grande amigo Paulo Autran, ela não esconde a idade. Os amigos já estão preparando um festão. E que presente ela vai ganhar de Autran? No ano passado, ele deu a Tônia um anel de topázio, cercado de turmalinas e brilhantes. Já ela deu a ele uma Montblanc (Autran faz aniversário em setembro).

RECUO
A crise econômica, é claro, atingiu o teatro. Pelos cálculos da Apetesp (Associação dos Produtores de Teatro de São Paulo), houve uma queda de 40% na venda de ingressos em relação a 2002. A crise provocou um fenômeno curioso: até os mais ricos têm procurado a entidade, que vende ingressos com até 60% de desconto.

RIR É O REMÉDIO
A Apetesp está vendendo 8.000 bilhetes promocionais por mês. Nas férias, o número chegou a 10 mil. A maior parte do público, 70%, fica atenta às comédias; 15%, aos musicais; e os outros 15%, aos dramas. Uma boa peça pode chegar a ser vista por 200 mil pessoas em um ano.

QUEM PODE PODE
As produções estreladas por atores consagrados, é claro, escapam com mais facilidade da crise. A peça de Juca de Oliveira lotou nos dois finais de semana em que está em cartaz, no Cultura Artística, onde cabem 1.156 pessoas. A peça de Tony Ramos e Dan Stulbach, juntos na novela "Mulheres Apaixonadas", já está com ingressos esgotados para a próxima semana.

COFRINHO
Os preços dos ingressos em SP são considerados altíssimos no Rio. Já houve polêmica porque, para ver "Intimidade Indecente", com Irene Ravache e Marcos Caruso, os cariocas tinham que pagar R$ 50. É de Marília Pêra o diagnóstico: ingressos de mais de R$ 15 no Rio são a senha para assustar o público.

MECENAS
É do diretor Jorge Takla (CIE), que participa de sucessos como "Sete Minutos", de Antonio Fagundes, e "A Bela e a Fera", entre outros, o diagnóstico: graças aos patrocínios, os ingressos são até baratos. Entrada de "A Bela e a Fera" custa de R$ 40 a R$ 150. Sem patrocínio, custaria R$ 300.

VAZIO
Takla acha também que está mais difícil conseguir patrocínio, o que pode comprometer a produção de 2004. Um espetáculo como o de Juca de Oliveira, diz, custa R$ 800 mil; "A Bela e a Fera" custou R$ 8 milhões.

TALHERES
O boom de peças agita também o circuito gastronômico da cidade: Paulo Autran adora o Parigi; Tony Ramos vai ao Massimo, ao Gero e ao La Casserole; Mariana Lima ("A Paixão segundo G.H."), ao Nagayama; Gabriela Duarte ("Pedro e Vanda"), ao Carlota; Ailton Graça ("Otelo"), ao Família Mancini.

MAGRO
Juca, que frequenta, entre outros, o Galeto's, está de regime: ele emagreceu 13 kg para interpretar um senador corrupto e metido a sexy nos palcos. Em seu camarim não faltam frutas.

ÁGUA
No camarim de Gabriela Duarte, 29, não faltam cremes. "Gosto de me perfumar e de passar hidratante antes de entrar em cena", diz ela. Camila Pitanga, 26, precisa de uma hora de concentração. E Paulo Autran, 81, de que precisa?
 
De um simples copo d'água.

MUSICAL

Aquarela de Marília

Em cartaz desde sexta com "Marília Pêra Canta Ary Barroso", no Cultura Artística, a atriz recebeu a coluna para um bate-papo. Marília, que tem casa na Lagoa, no Rio, e em Higienópolis, em São Paulo, só torce o nariz quando o assunto é política ("definitivamente, não é o meu forte"). E até para falar da idade tem tiradas de ótimo humor.
 
Folha - Como você se cuida dias antes de um musical?
Marília -
Não posso ficar falando muito. E sou alérgica. No primeiro dia em que entrei no teatro fiquei sem voz por causa do frio, da poeira, do mofo, do ácaro. Não saio à noite porque a cidade tem fumaça. Tento me alimentar bem, com legumes, frutas, vegetais.

Folha - Qual é a sua idade?
Marília -
Não! Isso não se pergunta a uma senhora.

Folha - É que encontrei duas idades nos arquivos do jornal.
Marília -
Jura? (risos) Quais?

Folha - 52 e 60.
Marília -
Eu prefiro 52 (risos).

Folha - Há uma geração entrando nos 60: Caetano, Gil, Chico...
Marília -
Milton Nascimento...Mick Jagger...Ney Matogrosso... essa turma. Mas eu tenho 52!

Folha - Qual é a diferença entre os públicos de São Paulo e do Rio?
Marília -
O Rio, por causa da beleza, do mar, dispersa as amizades. E o público também, que só vai ao teatro se a história interessa muito, ou quando os preços são baratos, R$ 15 no máximo. Talvez em SP haja maior dedicação, um público mais amoroso.

Folha - O que você acha das leis de incentivo cultural?
Marília-
Essa coisa fica sempre um pouco na base da amizade: se você conhece uma pessoa, é amiga, tem maior facilidade. Nunca tive um grande patrocínio. Não tenho vocação para ser patroa, arranjar dinheiro. Não sou esse tipo de mulher. Infelizmente.

Folha - Ainda sente medo do fracasso?
Marília -
Nesse espetáculo, há melodias lindas, a roupa é alegre, tudo é feito com o maior amor. Mas não dá para prever. Todos os atores que, como eu, têm 52 anos (risos) já tiveram fracassos.



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