São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2008

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Televisão/Crítica

Verhoeven retrata faroeste amoral

PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A consciência do corpo é um dado expressivo no cinema de Paul Verhoeven. Consciência que vem da própria situação na qual estão os personagens, geralmente esmagados pelo sistema. É uma constatação, então, que ultrapassa o físico para chegar a algo além: o próprio mundo. É assim com o corpo biomecânico do policial que é utilizado por uma megacorporação em "Robocop".
Não é diferente em "Showgirls" (TC Action, 0h20; não recomendado para menores de 18 anos). Estamos no universo dos grandes shows de cassino em Las Vegas, cidade que simboliza a riqueza material: o dinheiro, que inclusive torna confusos o humano e o produto. Sobretudo quando são corpos de dançarinas como Nomi Malone (Elizabeth Berkeley), que tem plena consciência sobre seu físico ser um item de consumo, uma peça de carne a se degustar.
Ela chega com tudo, passando a perna nas amigas concorrentes, oferecendo o que tem de melhor aos poderosos, tudo a fim de vencer na vida como uma grande dançarina. Não só ela; todas são pistoleiras. É como se estivéssemos num faroeste amoral.
Seria estúpido que Verhoeven utilizasse imagens "puritanas" para criticar esse ideário utilitarista que "plastifica" até mesmo a mais orgânica das experiências vivas, o sexo. Assim, por que deixar de ir ao ponto e mostrar os seios, dorsos e púbis à luz da visão? Seria hipócrita, senão obsceno, escondê-los.


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