São Paulo, segunda-feira, 03 de agosto de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Saudosista, Pearl Jam busca leveza

Em "Backspacer", grupo deixa política de lado e investe em músicas curtas que refletem olhar para o passado, diz guitarrista

"É um disco otimista, energético e agressivo", afirma o integrante Stone Gossard; grupo completa 20 anos de existência em 2010

Steve Gullick/Divulgação
A partir da esq., os integrantes do Pearl Jam: Mike McCready, Eddie Vedder, Matt Cameron, Jeff Ament e Stone Gossard; grupo lança seu nono álbum, que chega às lojas em 21 de setembro

BRUNO YUTAKA SAITO
ENVIADO ESPECIAL A SEATTLE

As paredes estão repletas de quadros com certificados de disco de ouro, ainda dos tempos em que a indústria fonográfica vivia dias menos tensos.
"Ten" (1991), "Vs." (1993) e "Vitalogy" (1994) são apenas alguns dos álbuns do Pearl Jam que estão lá, pendurados como se fossem troféus, em sala do escritório da banda, em Seattle. Um grupo de jornalistas do mundo inteiro, incluindo a Folha, ouviu, em primeira mão, o novo trabalho da banda, "Backspacer", que chega às lojas em 21 de setembro.
Esses nobres enfeites de parede são também o retrato de uma era que teve seu apogeu e declínio, os dias do grunge, no começo dos anos 1990.
Principal remanescente dessa cena musical, que teve o Nirvana como outro grande expoente, o Pearl Jam não quer, no entanto, virar relíquia de museu. Eles completam duas décadas de existência em 2010 e os integrantes estão na faixa dos 40 anos. Talvez nem se lembrem mais de seus primórdios, de banda underground, quando o vocalista, Eddie Vedder, era apenas um ex-frentista de posto de gasolina.
Hoje eles são uma grande corporação do rock com status de veteranos: lotam estádios no mundo inteiro e se envolvem em causas humanitárias, à moda do U2. No bairro de Georgetown, em Seattle, está o espaçoso escritório do grupo, que também serve de local de ensaios. O Pearl Jam não disfarça que é grande empresa.
"O que me motiva hoje? Por um lado, sou músico, artista e quero sempre criar coisas novas e ir para a frente", diz o guitarrista Mike McCready, 43. "Mas também tenho que me lembrar de que a banda é um negócio. Há a motivação para eu manter casa e família não apenas minhas, mas as dos funcionários que trabalham aqui." Mesmo assim, eles tentam não fazer música burocrática.
"Backspacer" é um disco curto e grosso, com pouco mais de 30 minutos de duração e 11 músicas. O tom urgente, roqueiro, guia o disco. "Gonna See My Friend" e "Supersonic" nos fazem lembrar que não apenas o rock "clássico" de Neil Young, mas também o punk do Ramones, é fonte de inspiração. "Quisemos ir direto ao ponto", explica o também guitarrista Stone Gossard, 43. "Tivemos uma tendência, no passado, de fazer músicas longas. É divertido ir na direção oposta agora, fazer canções concisas, pop." Gossard diz que a urgência sonora pode ser relacionada com a euforia da eleição de Barack Obama -o Pearl Jam não cansou de atacar a administração George W. Bush. "Mas este não é um disco político. As letras são sobre histórias pessoais, o planeta e a existência", afirma Gossard.
McCready explica o título do disco. ""Backspacer" é uma referência à tecla das antigas máquinas de escrever. Tem a ver com voltar, olhar para trás e ver a sua vida em retrospectiva." Os dois guitarristas dizem que é inevitável não relembrar o passado. "Qualquer pessoa, aos 40, começa a pensar mais sobre a família, a infância e os velhos amigos", diz Gossard. "Mas continuamos no mesmo estado de espírito de antes, de não pensar muito sobre o que estamos fazendo."
E agora, prestes a completar 20 anos de banda, o que pensam sobre o "grunge"? Seattle, enfim, não é mais o epicentro da música pop do planeta, e é raro encontrar alguém nas ruas da cidade vestindo camisas de flanela ou ouvir o Alice in Chains tocando em bares. ""Grunge" é uma palavra boa. Não sabíamos que o que fazíamos era grunge. É o termo exato para descrever o som do Mudhoney [banda de Seattle] e ajudou as pessoas a entenderem o que era essa música suja, fedorenta, que prestava tributo ao amadorismo. Mas tudo foi apenas uma manifestação do espírito punk", diz Gossard. No espírito ligeiro do disco, McCready resume: "Não importa a definição, é tudo rock".


O jornalista BRUNO YUTAKA SAITO viajou a convite da Universal Music


Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Frases
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.