São Paulo, terça-feira, 03 de agosto de 2010

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A arte de copiar

Fábrica no Paraná reproduz clássicos da história da arte, de Da Vinci e Velázquez a Klimt, e diz ser fiel até ao azul de Portinari

Guilherme Pupo/Folhapress
Provas da impressão de Portinari, na fábrica Recriar no PR

SILAS MARTÍ
ENVIADO ESPECIAL A PINHAIS (PR)

Três impressoras cospem no ritmo de um metro por hora telas cheias de cor, quase no mesmo tom das obras originais de Cândido Portinari.
Seria uma sala vazia, estéril e muda não fosse o zumbido dos cartuchos de tinta indo e vindo sobre o tecido. Funcionários usam lupas para checar os micropontos de cor, vendo se não destoam da tela feita à mão pelo artista.
Em Pinhais, polo industrial nos arredores de Curitiba, um galpão ao lado de uma fábrica de materiais hospitalares e um supermercado é uma espécie de ateliê mecanizado, sem artista.
Originais são fotografados ou escaneados, passam por um estudo de cor para impressão e saem emoldurados e embalados para lojas de decoração em todo o país.
Linhas de montagem estampam sobre tecido até mil reproduções por mês de obras de Portinari, Goya, Velázquez, Klimt e, agora, Da Vinci, mais recente aquisição do acervo de réplicas da Recriar, com "A Última Ceia".
Chegou em tempo para a temporada de vendas do fim do ano, em que esse tema sai mais do que todos os outros. Impressas sobre tela, copiando a textura dos originais, as réplicas têm preços que vão de R$ 90 até R$ 3.000.
Não é ilegal esse tipo de reprodução, mas o artista, se vivo, precisa estar de acordo -e muitas vezes recebe parte do lucro. No caso de autores mortos, o contrato é fechado com seus herdeiros ou com museus que têm os direitos de reprodução da imagem.
"Dá para imitar 98% do quadro, só que, a olho nu, para um leigo, vira 100%", diz o dono da fábrica, João Rezende, ex-exportador de pneus. "No exterior, é raro não encontrar ambientes decorados", diz. "Qualquer pires, xícara, parede tem arte."
De volta ao Brasil desde que abandonou o comércio de pneus, Rezende aperfeiçoou a técnica de estampar obras de arte em todo tipo de coisa, de chinelos de dedo a jogos de mesa.
"Tem artista que interpreta que arte aplicada em produto é muito bom, ajuda a valorizar o original", diz Rezende. "E jamais foi meu objetivo competir com o original, temos fins decorativos."


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