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ROMANCE/"UM AMOR ANARQUISTA"
Drama anarquista começa em casa
MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL
A Colônia Cecília foi a primeira
e mais importante experiência comunitária fundada por imigrantes anarquistas italianos no Brasil,
em 1890. Ideologicamente superada antes de sua fundação, economicamente desastrosa, ela
também simbolizou uma experiência libertária, um mito romântico que provocou a imaginação de vários autores. O mais recente a beber nessa fonte foi o jornalista e escritor Miguel Sanches
Neto, que está lançando o romance "Um Amor Anarquista".
O livro cria a história da vida
privada dos seus personagens
--não há registros extensos da
intimidade na colônia. Mostra o
dia-a-dia de privações e a idéia do
amor livre transformada em melancólico infortúnio pessoal.
"As próprias famílias dos descendentes silenciaram porque
acharam que a história dos parentes era vergonhosa", diz Sanches
Neto, que também é autor de
"Herdando uma Biblioteca" (Record, 2004) e do livro de contos
"Hóspede Secreto" (Record,
2003).
Desde 1994 o autor alimentava o
projeto do romance. Usou como
base para o trabalho ensaios que
traduziu do fundador da colônia
-o anarquista italiano Giovanni
Rossi (1856-1943). "Fui colocando
carne nesse esqueleto", afirma.
"Da prostituta [Maria Malacarne]
existem comentários de jornalistas e descendentes. Outras personagens foram criadas a partir de
dados que não são historicamente
comprovados, mas existiam comentários", diz.
Sanches Neto não construiu o
romance pensando em crítica,
mas quis apontar as contradições
de uma história que considera
"bonita". De início, os anarquistas foram bem recebidos pela sociedade local e a colônia teve no
auge cerca de 250 moradores. Mas
a cultura provinciana acabou se
chocando com a experiência.
"Muitos ficaram marcados. Anibal [um dos personagens] virou
sinônimo de corno na região.
Descendentes dos pioneiros silenciaram porque acharam que a história era vergonhosa. Hoje estão
valorizando a origem", diz.
A experiência foi efêmera. Em
1893, Rossi retirou-se da Colônia,
que se manteve, no entanto, por
mais um ano. Foi trabalhar como
agrônomo e veterinário no Rio
Grande do Sul. Mais tarde, transferiu-se para Santa Catarina, onde
colaborou na criação das primeiras cooperativas agrícolas. Em
1906 regressou definitivamente à
Itália, onde morreu em 1943.
Há um livro que registra com riqueza o episódio: "O Anarquismo
Experimental de Giovanni Rossi",
de Candido de Mello Neto (ed. da
UEPG, 1996). A história também
foi abordada em filme de Jean-Louis Comolli, "La Cecilia"
(1975), uma produção franco-italiana. Também teve uma minissérie exibida pela TV Bandeirantes
em 1989, "Colônia Cecília", dirigida por Hugo Barreto, com Paulo
Betti e Gabriela Duarte. E a história também é superficialmente
abordada por uma ilustre descendente dos colonos da Cecília: Zélia
Gattai, que se inspirou nos avós
para escrever "Anarquistas, Graças a Deus" (ed. Record, 1979).
Um Amor Anarquista
Autor: Miguel Sanches Neto
Editora: Record
Quanto: R$ 29,90 (256 págs.)
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