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DROGAS
Série "documental" traz "realidade" falsa
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A série "Intervenção", que estréia segunda no A&E Mundo,
propõe-se a mostrar a "realidade"
de dois usuários de drogas. Esqueça. Fora algumas cenas de
consumo de cocaína, crack e
afins, jogadas gratuitamente no
programa, nada parece real.
"Intervenção" passa mais de
meia hora explorando a vida de
Alyson, 27, ex-estagiária da Casa
Branca, e Tommy, 38, ex-executivo que vendeu até a casa para pagar traficantes. Eles se drogam
diante das câmeras e narram seus
medos. Numa edição lenta e pouco criativa, seguem depoimentos
dos pais, irmãos, amigos: "Ele não
é mais a mesma pessoa", "Nós a
estamos perdendo", "A droga está matando a família" e por aí vai.
O lacre de "TV realidade" é tão
impróprio que transforma drama
em comédia ao mostrar Tommy
roubando um suco em uma loja.
É óbvio que aquele roubo não
ocorria ali, diante das câmeras.
"Intervenção" também acompanha Tommy em uma "invasão"
ao café da manhã de um hotel. Ele
se finge de hóspede, mata a fome e
sai sem pagar. Ele e toda a equipe
do documentário. Lembra as pegadinhas de programa "trash".
Mas a série mostra-se mesmo
falsa quando entra na intervenção
propriamente dita. Funcionários
de clínicas vão à casa dos dois, dão
conselhos à família e levam os
usuários a um tratamento de 90
dias. A família sente-se aliviada,
chora. Alyson e Tommy partem
felizes com seus interventores.
Em menos de 20 minutos, o
programa traz algumas imagens
dos dois dentro da clínica, declarações sobre "estar limpo".
Como num "reality show", tudo
acaba bem. Ao final dos três meses, eles voltam saudáveis para casa. Com isso, "Intervenção", mais
que irreal, torna-se irresponsável.
Intervenção
Quando: segunda-feira, às 22h;
no A&E Mundo
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