São Paulo, domingo, 03 de setembro de 2006

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Literatura de programa

Fenômeno de vendas, livro de Bruna Surfistinha é exportado para vários países, ganha versão no cinema e impulsiona no Brasil filão de diários de ex-prostitutas

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Era o que faltava para Bruna Surfistinha, a "Paulo Coelho" do sexo. Depois de vender 140 mil exemplares de seu livro e exportá-lo para vários países, a ex-prostituta terá sua vida retratada nas telas do cinema.
O argumento a partir do qual o roteiro será escrito é assinado por Karim Aïnouz, diretor e roteirista do badalado "Madame Satã" (2002), que consagrou o ator Lázaro Ramos. A produtora TV Zero, responsável pelo longa, prevê a estréia para o segundo semestre de 2007.
A grife do cineasta atesta que Surfistinha já deixou de ser um fenômeno restrito à programação mais "trash" da televisão.
Menos de um ano após o lançamento, seu livro, "O Doce Veneno de Escorpião" (ed. Panda Books) crava resultados surpreendentes para o mercado editorial brasileiro e é considerado precursor do recente e lucrativo filão dos diários de ex-garotas de programa.
De carona no sucesso de Surfistinha, chegaram às livrarias do país "A Agenda de Virgínia", de uma ex-prostituta espanhola e "O Diário de Marise", de uma garota de programa recém-aposentada de Balneário Camboriú, em SC.
São livros em tom confessional com dramas familiares -especialmente com o pai-, histórias dos "bastidores" da prostituição e relatos minuciosos das variadas experiências com clientes. Têm um traço de auto-ajuda visto que, ao final, todas conseguem deixar a "vida fácil". O filão atrai leitores variados: homens, obviamente, mulheres casadas em busca de segredos da alcova e até adolescentes, interessados pelo lado "aventureiro" das moças.
O fenômeno não é exclusivo do Brasil. Há diários de ex-prostitutas das mais diversas nacionalidades. Mas os 140 mil exemplares de Surfistinha surpreenderam as editoras brasileiras, que raramente conseguem vendagem superior a 10 mil. Os direitos já foram vendidos para os mais diferentes países. Acompanhe a lista: EUA, Inglaterra, Nova Zelândia, Canadá, França, Espanha, Itália, Alemanha, Holanda, Coréia do Sul, Turquia e Vietnã.
No final do ano, Raquel Pacheco (o verdadeiro nome de Surfistinha), 21, fará uma turnê por alguns desses países. Ela já esteve em capitais da América Latina, onde uma versão em espanhol foi lançada pela Planeta (nova editora de Paulo Coelho), que também distribuiu o livro à comunidade hispânica dos EUA. Desde março, 32 mil exemplares foram comprados pelos latinos. No mesmo mês, a Planeta trouxe "A Agenda de Virgínia" ao Brasil. Best-seller na Espanha com mais de 400 mil cópias vendidas, chegou às 5.000 nas livrarias brasileiras, bom resultado para quem nunca freqüentou a mídia nacional.
Foi superior o desempenho de "O Diário de Marise" (ed. Matrix), divulgado por sua autora, Vanessa de Oliveira, 31, do "Programa do Jô" ao de Luciana Gimenez. Em dois meses, ultrapassa 15 mil exemplares.
O filão da "literatura de programa" vende tanto que já "abre o leque". Na quinta-feira, foi lançado "Depois do Escorpião - Uma História de Amor, Sexo e Traição" (ed. Seoman). A autora, Samantha Moraes, 30, é ex-mulher do atual namorado de Surfistinha e decidiu se aproveitar do fato de ter sido trocada pela famosa prostituta. O relato saiu com a primeira tiragem (5.000) já esgotada.
Como se não bastasse, a precursora da onda lançará em outubro sua segunda "obra", "Tudo o que Aprendi com Bruna Surfistinha - Lições de uma Vida Nada Fácil". Mais: chega às lojas neste mês um audiolivro, com pouco mais de uma hora, em que ela narra histórias "quentes" que não entraram em "O Doce Veneno".


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