São Paulo, quinta-feira, 03 de setembro de 2009

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Moacir dos Anjos quer Bienal política

O curador da 29ª Bienal de São Paulo, prevista para começar em setembro de 2010, fala de seus planos para a mostra

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um evento político e capaz de mudar o modo como se experimenta o mundo. Essa é a pretensão da 29ª Bienal de São Paulo, de acordo com seu curador-geral, o pernambucano Moacir dos Anjos, 43. A mostra está marcada para ser aberta em setembro do ano que vem.
Sem considerar o projeto ambicioso demais, Anjos afirma que ele mesmo é um exemplo da capacidade de mudança promovida pela arte: "Esse é um "statement" curatorial absolutamente sincero, porque é a minha própria história".
Durante a realização de um doutorado em Londres, entre 1990 e 1994, Anjos, então economista, visitou frequentemente exposições e mostras.
O contato com a arte alterou o rumo de sua carreira, já que o até então funcionário do Instituto de Pesquisas Sociais da Fundação Joaquim Nabuco, no Recife, conseguiu ser transferido para uma recém-criada diretoria de arte na instituição, no ano de 1998.
Em dez anos, Anjos realizou uma carreira meteórica nas artes plásticas, culminando, há dois meses, com a indicação de curador da 29ª Bienal, a mostra de arte mais importante do país e uma das mais reconhecidas em todo o mundo.
Anteontem, pela primeira vez, Anjos começou a ocupar o pavilhão da Bienal. Ainda sem sala e tendo de se apresentar aos porteiros para poder entrar, ele recebeu a Folha para uma entrevista, que já tinha sido iniciada pela internet (leia a íntegra na Folha Online em www.folha.com.br/092452).
A questão política da mostra, contudo, não quer ser panfletária. A reação a um dos grandes impactos que Anjos teve com a arte, numa exposição do alemão Anselm Kiefer, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1998, aponta como o curador relaciona arte e estética.
"Não há texto ou elaboração discursiva quaisquer capazes de proporcionar o que senti naquela mostra, onde a dor da guerra era abordada de modo direto sem ser meramente ilustrativa e era, talvez até por isso, transformada em uma questão que importa a todos."
Essa abertura está presente no título da mostra, "Há Sempre um Copo de Mar para um Homem Navegar", que tem Agnaldo Farias como cocurador, anunciado anteontem.
"Esse é um verso do poeta Jorge de Lima que afirma como a dimensão utópica da arte está contida nela mesma e não no que está fora ou além dela", diz o curador.

Revisão da história da arte
Mesmo após tantas críticas ao modelo agigantado da Bienal, realizadas em seminários da última edição do evento, será mantido um grande número de artistas, cerca de 150, privilegiando a produção brasileira.
"Não será mostrar por mostrar, mas queremos reavaliar a história da arte brasileira, essa visão de que tivemos uma arte política nos anos 1960 e 1970, enquanto tudo depois seria descompromissado", avalia ele.
Para tanto, Anjos pretende apresentar trabalhos históricos de artistas brasileiros. Mesmo sem nomes definidos, o curador aponta a "Experiência nº 2", a performance de Flavio de Carvalho (1899-1973), feita em 1931, como um dos exemplos do que procura apresentar.
"É um paradigma da possibilidade de se pensar a relação entre arte e política de uma maneira mais ampla e relevante."
Dos anos 1980, o curador aponta Nuno Ramos e Rosângela Rennó como artistas que seguem a mesma linha.
"Mesmo quando não tematizam a política, [o trabalho deles] nos faz olhar o que está à nossa volta de um modo diferente; e se a arte faz isso, é evidente que ela faz política."


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