São Paulo, sexta-feira, 03 de setembro de 2010

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Humoristas enfrentam autocensura

Mesmo com a suspensão provisória da lei, é preciso lutar contra o medo da punição, diz Marcelo Tas, do "CQC"

Suspensão da lei anti-humor libera piadas com candidatos, mas gera clima negativo nos bastidores das TVs


Divulgação
O candidato do PSDB à Presidência José Serra, com dentes de vampiro inseridos por computador do programa "CQC", da Bandeirantes, na segunda

IVAN FINOTTI
DE SÃO PAULO

Uma semana depois de o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Carlos Ayres Britto ter liberado a gozação geral, ou melhor, ter suspendido a legislação que proíbe programas de fazerem piadas com os candidatos que disputarão as eleições de outubro, a censura ainda faz sombra em cima dos humoristas.
As últimas edições dos principais programas de humor da TV brasileiros -"Casseta & Planeta" (Globo), "CQC" (Band) e "Pânico" (Rede TV)- fizeram, finalmente, piadas em cima dos presidenciáveis.
"O problema é que rola um sintoma pós-traumático", avalia Marcelo Tas, do "CQC". "É como quando você leva uma porrada no futebol ou quebra um braço e tira o gesso. Fica com receio de bater de novo ali. Espero que isso desapareça logo. Estamos em 2010 e é muito tarde pra esse tipo de brincadeira."
Na edição de segunda-feira, o "CQC" exibiu cenas gravadas nas semanas anteriores e que não foram ao ar devido ao medo da multa. São entrevistas com intervenções gráficas, como dentes de vampiro em José Serra.
"O ponto é que isso tudo gera intimidação psicológica. É o efeito da censura, o que a censura quer."
Segundo Tas, previa-se uma punição "injustificável" (leia texto nesta página). "Imagine a paranoia que isso gera numa empresa. Na dúvida, extrapola-se e corta-se tudo, desde o repórter até o editor, todo mundo fica se autocensurando."
A suspensão de Ayres Britto seria levada ontem ao plenário do STF, para ser referendada ou anulada pelos seus colegas ministros (não havia decisão até o fechamento desta edição).

PERSONAGENS
A turma do "Casseta & Planeta Urgente" retomou os personagens que fazia antes da proibição: Dilmandona, Zé Careca e Magrina da Silva. Esta última, interpretada por Hélio de La Peña. "O timing foi ótimo pra gente. A lei caiu na quinta, na sexta estávamos na Redação e escrevemos as piadas para incluir nas gravações de segunda-feira", conta o humorista.
No programa de terça, eles não fizeram referência à suspensão. "Cobrimos as eleições sempre com o que está acontecendo nas campanhas na última semana. Desta vez, brincamos com o clima de "já ganhou" da Dilma e com a queda nas pesquisas de Serra, por exemplo."
De La Peña diz que não chega a se preocupar com os minutos de aparição dos personagens, mas que se preocupa em não sacanear muito um e poupar outro. "Nossa preocupação é sempre fazer uma piada com cada um, mas não contamos tempo."
Já o "Pânico", por ser exibido no domingo, teve menos tempo para se agilizar. "Foi muito em cima da hora pra gente. Fizemos só uma paródia musical com os três principais presidenciáveis. Estamos aguardando orientações do departamento jurídico da emissora", diz Emílio Surita.
"Estamos esperando essa votação permanente. Fizemos reunião de pauta na terça e não decidimos nada. Temos uns personagens, como a Dilma Duchefe, mas pode fazer só dela ou tem que fazer dos outros para equilibrar? Não sei."
E é Surita quem resume o clima nos bastidores dos programas de TV do Brasil em 2010: "É duro, mas estamos fazendo piada com advogado do lado".


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