São Paulo, sexta-feira, 03 de setembro de 2010

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67º FESTIVAL DE CINEMA DE VENEZA

Comédia italiana revela país fechado

Diretor da Cinemateca de Bologna diz que o gênero perdeu força crítica num país de comunicação controlada

Organizador da mostra "La Zituazione Comica" afirma que filmes feitos até os anos 1970 eram fruto de um país aberto


ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A VENEZA

"Às vezes, eu me pergunto se, em 20 anos, quando quisermos entender a Itália de hoje, poderemos fazer isso por meio do cinema. Não, não poderemos."
A constatação de Gianlucca Farinelli, diretor da Cinemateca de Bologna, refere-se ao futuro, mas tem como ponto de partida o passado.
Farinelli é um dos responsáveis pela mostra "La Zituazione Comica (1934-1988)", que apresentará 30 filmes durante o Festival de Veneza.
A retrospectiva recoloca nos projetores as expressões e os gestos de Vittorio De Sica, Toto, Aldo Fabrizi, Alberto Sordi, Nino Manfredi, Ugo Tognazzi e Vittorio Gassman.
São filmes dirigidos por Mario Monicelli, Mario Mattoli e Dino Risi, entre outros. "Eles representavam a Itália com muito amor e, ao mesmo tempo, eram absolutamente críticos", afirma Farinelli.
"Eles riam das nossas mazelas e os italianos gostavam de se ver assim representados. Toda contradição da sociedade estava posta ali."
Mas eis que a sociedade começou a mudar e, em meados dos anos 1960, chegou ao fim essa idade de ouro.
"Nessa época, surge com força a TV e, com ela, um novo modelo de representação", diz Farinelli. Para o diretor da Cinemateca, é "Um Burguês Pequeno, Pequeno" (1977), de Monicelli, que prega a placa "fim" a essa época. "Aí vem o cine panetone."

PANETONE
Farinelli refere-se às comédias natalinas da série "Vacanze di Natale", que batem recordes de bilheteria no final do ano no país, superando até mesmo os blockbusters de Hollywood.
O primeiro filme da série será exibido na mostra "La Zituazione Comica". Ironicamente, eles são estrelados por Christian De Sica, filho de Vittorio De Sica. A produção atual conhece, ainda, uma série adolescente e uma porção de filmes derivados de personagens televisivos.
Trata-se, porém, de uma produção para consumo local que, exceção feita a Roberto Begnini e Carlo Vardoni, não desperta interesse no exterior. "A estrutura narrativa não tem nenhuma importância. São só esquetes", afirma Farinelli.
Para ele, as novas comédias refletem a Itália de hoje: uma sociedade fechada. Os filmes feitos entre 1940 e 1970, por outro lado, eram fruto de um país aberto para o mundo.
"Eram as comédias de uma Itália que exportou o neorrealismo, "A Doce Vida" e os carros da Fiat. Hoje, somos o contrário disso. Estamos fechados num sistema de comunicação controlado por um grupo financeiro e político", completa.


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