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67º FESTIVAL DE CINEMA DE VENEZA
Comédia italiana revela país fechado
Diretor da Cinemateca de Bologna diz que o gênero perdeu força crítica num país de comunicação controlada
Organizador da mostra "La Zituazione Comica" afirma que filmes feitos até os anos 1970 eram fruto de um país aberto
ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A VENEZA
"Às vezes, eu me pergunto
se, em 20 anos, quando quisermos entender a Itália de
hoje, poderemos fazer isso
por meio do cinema. Não,
não poderemos."
A constatação de Gianlucca Farinelli, diretor da Cinemateca de Bologna, refere-se
ao futuro, mas tem como
ponto de partida o passado.
Farinelli é um dos responsáveis pela mostra "La Zituazione Comica (1934-1988)",
que apresentará 30 filmes
durante o Festival de Veneza.
A retrospectiva recoloca
nos projetores as expressões
e os gestos de Vittorio De Sica, Toto, Aldo Fabrizi, Alberto Sordi, Nino Manfredi, Ugo
Tognazzi e Vittorio Gassman.
São filmes dirigidos por
Mario Monicelli, Mario Mattoli e Dino Risi, entre outros.
"Eles representavam a Itália
com muito amor e, ao mesmo
tempo, eram absolutamente
críticos", afirma Farinelli.
"Eles riam das nossas mazelas e os italianos gostavam
de se ver assim representados. Toda contradição da sociedade estava posta ali."
Mas eis que a sociedade
começou a mudar e, em meados dos anos 1960, chegou
ao fim essa idade de ouro.
"Nessa época, surge com
força a TV e, com ela, um novo modelo de representação", diz Farinelli. Para o diretor da Cinemateca, é "Um
Burguês Pequeno, Pequeno"
(1977), de Monicelli, que prega a placa "fim" a essa época.
"Aí vem o cine panetone."
PANETONE
Farinelli refere-se às comédias natalinas da série "Vacanze di Natale", que batem
recordes de bilheteria no final do ano no país, superando até mesmo os blockbusters de Hollywood.
O primeiro filme da série
será exibido na mostra "La
Zituazione Comica". Ironicamente, eles são estrelados
por Christian De Sica, filho
de Vittorio De Sica. A produção atual conhece, ainda,
uma série adolescente e uma
porção de filmes derivados
de personagens televisivos.
Trata-se, porém, de uma
produção para consumo local que, exceção feita a Roberto Begnini e Carlo Vardoni, não desperta interesse no
exterior. "A estrutura narrativa não tem nenhuma importância. São só esquetes", afirma Farinelli.
Para ele, as novas comédias refletem a Itália de hoje:
uma sociedade fechada. Os
filmes feitos entre 1940 e
1970, por outro lado, eram
fruto de um país aberto para
o mundo.
"Eram as comédias de
uma Itália que exportou o
neorrealismo, "A Doce Vida" e
os carros da Fiat. Hoje, somos o contrário disso. Estamos fechados num sistema
de comunicação controlado
por um grupo financeiro e
político", completa.
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