São Paulo, quarta-feira, 03 de outubro de 2007

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Fazemos política de patrocínio, diz gerente cultural

Produtores de teatro, entretanto, queixam-se da prioridade dada pela Petrobras a companhias, como Galpão e Oficina

Editais distribuem R$ 60 milhões, mas maioria das verbas vai para escolhas diretas da estatal, inclusive de alguns de seus diretores

DA SUCURSAL DO RIO

Eliane Costa assumiu seu cargo três meses depois de uma grande polêmica. O cineasta Cacá Diegues, o produtor Luiz Carlos Barreto e outros se revoltaram contra o que chamaram de "dirigismo cultural": a exigência, por parte do governo, de contrapartidas sociais para a concessão de patrocínios por empresas estatais.
"Essa discussão perdeu o élan. Hoje, os projetos já trazem naturalmente um algo a mais [de contrapartida]. Caminha-se para um conceito de fraternidade", acredita.
Realmente, o tema esmoreceu. O que não quer dizer que todos amem os critérios da Petrobras. Mas poucos falam abertamente contra. Alguns cineastas procurados pela Folha preferiram não dar depoimentos. Roberto Farias, que teve dois projetos rejeitados pela empresa, diz não se queixar do edital, pois acredita que o problema do patrocínio ao cinema seja mais amplo.
"Há uma tendência a estimular um tipo de filme que encontra dificuldades no mercado. E não dá para competir com o cinema estrangeiro de alta tecnologia e orçamentos estratosféricos com filmes que nem se dispõem a buscar a preferência do público", diz o autor de "Assalto ao Trem Pagador" (1962).

Queixas teatrais
Há opiniões semelhantes no teatro. A Petrobras tem patrocinado companhias, como Galpão e Oficina, e não as chamadas produções independentes. Mesmo no edital da Funarte (Prêmio Myriam Muniz), grupos são maioria.
"Os grupos que têm conceito e tradição encontram espaço na Petrobras, mas os produtores independentes com currículo, não. É claro que os grupos merecem, mas nós também", diz o presidente da APTR (Associação dos Produtores de Teatro do RJ), Eduardo Barata.
Produtora de teatro e cinema -teve um projeto de filme aprovado no último edital-, Bianca de Felippes considera uma "distorção" a empresa dar suporte a projetos do Ministério da Cultura, em vez de as duas partes terem seus orçamentos distintos. "É errado a Petrobras tapar o buraco do governo", critica.
Eliane Costa vê afinidade, não substituição, diz que a prioridade é para projetos não-comerciais e que "a Petrobras nunca foi grande patrocinadora de teatro". "Com a seleção pública, mudou de balcão de patrocínio para política de patrocínio", defende ela.
As seleções começaram em 2001. Estão na faixa de R$ 60 milhões, mas ainda são larga minoria. A maioria dos recursos sai para "continuidade" -companhias, festivais e casas de espetáculos que têm patrocínio constante- e para as "oportunidades", projetos aprovados diretamente por Costa ou recomendados por diretores da empresa.
"O relacionamento institucional é legítimo", diz ela sobre as recomendações.
O volume de recursos tem crescido juntamente com o aumento dos lucros da Petrobras. Neste ano, entretanto, o montante cairá, pois já se sabe que a estatal não igualará o lucro de 2006. No país, o teto para uma empresa investir em cultura com dedução fiscal é de 4% do imposto devido.
Para ser avaliado pela Petrobras, um projeto precisa ter o certificado da Lei Rouanet. Dos R$ 288 milhões desembolsados em 2006, R$ 204,4 milhões foram com renúncia fiscal.
Normalmente anunciado em novembro, o edital do Programa Petrobras Cultural ficará para março ou abril do próximo ano. O programa passará por uma reavaliação baseada em pesquisas. (LUIZ FERNANDO VIANNA)


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