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Fazemos política de patrocínio, diz gerente cultural
Produtores de teatro, entretanto, queixam-se da prioridade dada pela Petrobras a companhias, como Galpão e Oficina
Editais distribuem R$ 60 milhões, mas maioria das verbas vai para escolhas diretas da estatal, inclusive de alguns de seus diretores
DA SUCURSAL DO RIO
Eliane Costa assumiu seu
cargo três meses depois de uma
grande polêmica. O cineasta
Cacá Diegues, o produtor Luiz
Carlos Barreto e outros se revoltaram contra o que chamaram de "dirigismo cultural": a
exigência, por parte do governo, de contrapartidas sociais
para a concessão de patrocínios
por empresas estatais.
"Essa discussão perdeu o
élan. Hoje, os projetos já trazem naturalmente um algo a
mais [de contrapartida]. Caminha-se para um conceito de fraternidade", acredita.
Realmente, o tema esmoreceu. O que não quer dizer que
todos amem os critérios da Petrobras. Mas poucos falam
abertamente contra. Alguns cineastas procurados pela Folha
preferiram não dar depoimentos. Roberto Farias, que teve
dois projetos rejeitados pela
empresa, diz não se queixar do
edital, pois acredita que o problema do patrocínio ao cinema
seja mais amplo.
"Há uma tendência a estimular um tipo de filme que encontra dificuldades no mercado. E
não dá para competir com o cinema estrangeiro de alta tecnologia e orçamentos estratosféricos com filmes que nem se
dispõem a buscar a preferência
do público", diz o autor de "Assalto ao Trem Pagador" (1962).
Queixas teatrais
Há opiniões semelhantes no
teatro. A Petrobras tem patrocinado companhias, como Galpão e Oficina, e não as chamadas produções independentes.
Mesmo no edital da Funarte
(Prêmio Myriam Muniz), grupos são maioria.
"Os grupos que têm conceito
e tradição encontram espaço
na Petrobras, mas os produtores independentes com currículo, não. É claro que os grupos
merecem, mas nós também",
diz o presidente da APTR (Associação dos Produtores de
Teatro do RJ), Eduardo Barata.
Produtora de teatro e cinema
-teve um projeto de filme
aprovado no último edital-,
Bianca de Felippes considera
uma "distorção" a empresa dar
suporte a projetos do Ministério da Cultura, em vez de as
duas partes terem seus orçamentos distintos. "É errado a
Petrobras tapar o buraco do governo", critica.
Eliane Costa vê afinidade,
não substituição, diz que a prioridade é para projetos não-comerciais e que "a Petrobras
nunca foi grande patrocinadora de teatro". "Com a seleção
pública, mudou de balcão de
patrocínio para política de patrocínio", defende ela.
As seleções começaram em
2001. Estão na faixa de R$ 60
milhões, mas ainda são larga
minoria. A maioria dos recursos sai para "continuidade"
-companhias, festivais e casas
de espetáculos que têm patrocínio constante- e para as
"oportunidades", projetos
aprovados diretamente por
Costa ou recomendados por diretores da empresa.
"O relacionamento institucional é legítimo", diz ela sobre
as recomendações.
O volume de recursos tem
crescido juntamente com o aumento dos lucros da Petrobras.
Neste ano, entretanto, o montante cairá, pois já se sabe que a
estatal não igualará o lucro de
2006. No país, o teto para uma
empresa investir em cultura
com dedução fiscal é de 4% do
imposto devido.
Para ser avaliado pela Petrobras, um projeto precisa ter o
certificado da Lei Rouanet. Dos
R$ 288 milhões desembolsados
em 2006, R$ 204,4 milhões foram com renúncia fiscal.
Normalmente anunciado em
novembro, o edital do Programa Petrobras Cultural ficará
para março ou abril do próximo
ano. O programa passará por
uma reavaliação baseada em
pesquisas.
(LUIZ FERNANDO VIANNA)
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